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"Adão e Eva", Luigi Ontani

   

 

LUIGI ONTANI: Ganesham USA

por Mario S. Mieli

Para quem aprecia a linha de trabalho de artistas como a norte-americana Cindy Sherman, o japonês Yasumasa Morimura e os franceses Pierre et Gilles, aqui está uma ocasião especial para familiarizar-se ou aprofundar o conhecimento do trabalho de LUIGI ONTANI, artista bastante conhecido na Itália desde os anos 70 e precursor do tipo de arte na qual o artista usa o seu próprio corpo (no caso de Sherman e Morimura, ou o corpo de outras pessoas, no caso de Pierre et Gilles) como mídia, assumindo a identidade de pessoas reais ou imaginárias através de todos os recursos artísticos possíveis.

O P.S.1 Contemporary Art Center de Nova York está apresentando uma retrospectiva do artista italiano, cobrindo a sua produção durante o período de 1965 a 2001. A mostra, que teve curadoria de Carolyn Christov-Bakargiev, ficará exposta até o dia 6 de maio de 2001. Ontani lança mão de todos os recursos possíveis — máscaras, trajes e acessórios, maquiagem, poses e expressões faciais e corporais, decoração, iluminação, pintura, escultura — para criar tableaux vivants que são, geralmente, posterizados em imagens fotográficas.

Personagens lendários, mitológicos, pertencentes ao universo dos contos de fadas, ou personalidades históricas, artísticas, religiosas ou profanas são encarnadas pelo artista através de seu processo trabalho. Dessa forma, entre outras, podem ser vistas na mostra obras que representam Ontani como São Sebastião ("San Sebastiano nel bosco di Calvenzano, d’àprès Guido Reni", obra de 1970), ou como São Lucas ("San Luca, d’après Guercini"), ou meditando como numa das telas de de la Tour ("Meditazione d’après de la Tour"), nas vestes de Rafael, Dante e Pinóquio (1972), assim como em vários personagens da mitologia greco-romana: Tentazione (1970), Bacchino (1970) e Pan Olimpo (1975), ou em obras cujo título descreve jocosamente a intenção da produção artística. É o caso de Lapsus Lupus (1992), com Ontani posando de loba de Roma, CagliOstrico (de 97, onde está coberto de dentes de alho), FORTuna (de 96, onde sustenta o planeta como chapéu na cabeça e usa uma megaferradura como pendantif), CiliEgia (de 1999, imerso numa profusão de cerejas), ou Tulipano nell’Ano (de 1980, onde nu e de quatro, posa com uma tulipa colocada entre as nádegas-vaso), ou ainda Pastifero (de 98, onde, num estilo à la Arcimboldo, o artista se retrata decorado e condecorado com todos os tipos de massas).

Não é infrequente ouvir algum dos visitantes menos afeitos a esse tipo de arte proferir frases do tipo: —Oh… this is just more of the same person… (—Ah… isso são só mais coisas da mesma pessoa), ao verem além das fotos, também os desenhos, esculturas, slides e filmes das performances realizadas pelo artista. Mas a obra apoteótica da retrospectiva é, sem dúvida, o conjunto de esculturas cuja peça central é o elefante de cerâmica em tamanho natural titulada Ganeshamusa (de 2000) e exibido previamente no Aquário de Roma. Ganeshamusa, que nessa primeira retrospectiva norte-americana do P.S.1 teve a sua grafia alterada para GaneshamUSA, está sendo exposta numa sala-instalação onde constam também várias fotos da série En Route Vers l’Inde (1976-2000), onde Ontani assume as identidades de várias divindades do panteão hindu.

Como Flaubert, em sua afirmação: "Madame Bovary c’est moi", o trabalho de Ontani vai além do impacto causado pela ilustração viva de referências e imagens mitológicas, históricas, culturais e artísticas, pelo exoticismo e exuberância de algumas das imagens e pelo minimalismo e despojamento de outras; pelo humor e ironia que transparecem no registro das expressões; pelo mélange imprevisto entre "arte povera" (na simplicidade e precariedade de alguns dos materiais) e a extrema preocupação e sofisticação com os detalhes, mas seduz pela aventura estética de recriar o universo com os elementos que estiverem ao alcance do artista (começando pelo seu próprio corpo e "persona") manipulados pela magia de sua criatividade, e pela manifestação, na arte, do paradoxo entre o exibicionismo extremo — a própria imagem e "persona" se tornam o suporte para todos os personagens e situações, sendo todos meras projeções do eu — e, ao mesmo tempo, a inegável negação do próprio eu superficial e afirmação do eu interior — como eu sou todos e todos são eu — tanto faz quem estiver representando os personagens.

Alguns sites selecionados sobre Luigi Ontani:

http://www.ps1.org

http://www.italica.rai.it/galleria/autoritratti/ontani/

http://www.ronchiniarte.com/luigi_ontani.html

http://www.kwart.kataweb.it/kwart/video_ontani_56k.shtml

http://www.fondazionecrv.it/attivita/mostre/eroeborghese/p_7.htm

http://www.museion.it/html/ontani.html

http://www.cassiopea.it/campofragole/actis/actis.html

http://www.artinews.it/gallery/miscetti/ontani.htm

http://www.galleriadartemoderna.bo.it/appearance.htm

 

samba<info@imediata.com>