O
grande metafísico, Giorgio De Chirico
Óleo
sobre tela, 1917
41
1/4 X 27 1/2 polegadas/Nova York, The Museum of Modern Art, The
Philip L. Goodwin Collection
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>>>PORTUGUÊS
>>>ENGLISH
VIAJANDO
AO INTERIOR DO
"GRANDE
METAFÍSICO", de Giorgio De Chirico
por
Mario S. Mieli
"
Enquanto isso, o interesse pelas minhas pinturas, que eu chamei
de metafísicas, estava crescendo. Um jovem marchand, chamado
Paul Guillaume, que era também amigo de Apollinaire, comprou
alguns quadros meus. Ele também queria fazer um contrato
comigo, o qual lhe permitiria adquirir toda a minha produção.
Naquela época, alguns dos marchands de Paris tinham começado
a praticar o hábito nefasto de monopolizar o trabalho de
um pintor, com discursos e artigos, cada um mais equivocado do
que o outro, enquanto os "chamados" críticos
de arte eram contratados para ajudá-los. Todos esses métodos,
combinados com outros fatores, levaram a arte na Europa ao estado
de decadência chocante, que prevalece hoje em dia. Naturalmente,
naquela época, eu não compreendia certas coisas
como hoje, apesar de que, instintivamente, sentia um profundo
desgosto e antipatia tanto com relação aos marchands
quanto aos críticos. Eu via que o interesse pelas minhas
pinturas estava aumentando; eu via que as revistas e os jornais
reproduziam meus trabalhos; eu consegui algum dinheiro e alguns
elogios; eu estava feliz. Mas o Ano Fatal de 1914 chegou; era
verão, quente e abafado. Um belo dia tudo se tornou confuso
e incerto; as pessoas congestionavam as ruas; os jornais se vendiam
mais do que nunca; o assassinato em Sarajevo: a guerra."
Das
Memórias de De Chirico
Primeira
impressões
A
primeira impressão que se tem ao ver
"O Grande Metafísico" é a de um certo
impacto causado por uma composição de elementos
enigmática, estranha e intensa. A imagem central do primeiro
plano é formada por uma figura gigantesca com um busto
desproporcional, ou talvez, um monumento estruturado geometricamente.
Olhando-se de frente para a figura, seu aspecto e proporções
intimidam.
O
Manequim
A
imagem central parece representar uma figura humana: um manequim
sustentado por instrumentos geométricos.
O
rosto do manequim não tem feições e o seu
corpo parece ser composto de uma assemblagem de diferentes ferramentas:
réguas, esquadros, segmentos de molduras, talvez um cavalete
fragmentado. No canto superior direito, podemos ver um pano vermelho,
o tipo de cobertura utilizada pelos artistas para proteger e esconder
suas obras inacabadas.
É
importante observar que em muitas outras obras de De Chirico ("As
Musas Inquietantes", "O Poeta e Sua Musa", "As
duas irmãs", " O Duo", "O Vidente",
"O Pintor de Paisagens", "A Luz Fatal", etc.),
assim como em obras de outros artistas metafísicos e surrealistas,
como Carlo
Carrà (em sua "A Musa Metafísica",
por exemplo) e Magritte,
encontramos o mesmo motivo de um rosto de manequim dispensando
feições distinguíveis.
O
interesse de De Chirico por essas estruturas começou em
1914, e durou por vários anos, sugerindo "as figuras
articuladas de madeira utilizadas em aulas de desenho, manequins
de costumistas, ou as figuras de modelos e desenhos anatômicos
do Renascimento". Como observa Arnason: "Toda a aura
desses quadros lembra as perspectivas arquitetônicas do
Renascimento dos séculos quinze e dezesseis, tornadas dramáticas
pelos escorços e closes extremos".
Essas
imagens em silhueta têm um intenso poder evocativo e parecem
sugerir um tentativa de fugir da representação das
coisas assim como existem, para substituí-las por outras,
menos específicas e mais abrangentes. Dessa forma, as diferenças
superficiais que existem de um indivíduo a outro são
diminuídas, e uma relação mais ampla é
feita no sentido da consciência profunda, da gênese
e dos contornos do ser. O manequim, que pela leitura dos títulos
das obras onde se manifesta, representa para o artista o arqueólogo,
o filósofo, o escritor, o poeta, passa a encarnar, assim,
o homem universal.
No
manequim sem face definida, existe também um elemento de
auto-identificação que choca, já que o rosto
impessoal espelha a consciência do espectador, assim como
o forte elemento da cegueira nos remete à deusa grega da
Sabedoria, Justiça, Invenção e Artes: Minerva.
Como Minerva, o manequim cego intermedia entre o bem e o mal,
o espaço e o tempo, o mundo dos sentidos e o mundo do intelecto
adquirindo, por fim, a clarividência. Como o clarividente
é fundamentalmente cego com relação ao presente
e ao imediato, ele possui este poder justamente por ser cego de
si mesmo, conseguindo ver somente porque reconstrói ou
recompõe, como o artista.
Auto-vidência/
Arte-vidência
Nesse
sentido, a face sem feições poderia ser um símbolo
do próprio artista, representado como um clarividente,
e o título de uma outra obra de De Chirico parece sugerir
exatamente isso: "O Vidente". Ela poderia ser considerada
também um símbolo da própria arte, representada
como uma musa que dá acesso a um mundo de ambiguidades,
implicações, conotações, associações,
idéias, qualidades e funções.
A
face atemporal e, portanto, eterna, sugere a relação
do artista com o tempo, e o corpo que a sustenta é uma
assemblagem de instrumentos justapostos (em outras telas do artista,
os corpos são compostos de elementos, formas, símbolos
arquitetônicos e mitológicos provenientes da Antiguidade),
sugerindo a incorporação da memória, cultura
e tecnologia do passado. O artista, sendo aquele que detém
precisamente a memória, a cultura e a tecnologia do passado,
pode torná-lo presente eternamente, transcendendo ou anulando
o tempo, como um clarividente. Em outras palavras, dá acesso
a um certo tipo de vidência: "auto-vidência"
ou "arte-vidência".
Techné
= Arte
O
corpo que suporta a face enigmática (e nesse ponto poderíamos
nos perguntar novamente: trata-se de uma face ou da própria
arte?), por outro lado, sugere diretamente o corpo de técnicas
que dão suporte à arte e ao artista, com seus métodos,
seus experimentos, seu progresso na aplicação de
suas habilidades e técnicas. "Técnica"
é a palavra chave para decifrar o corpo do monumento. Como
o próprio De Chirico escreveu em seu "A Técnica
da Pintura": "Não devemos esquecer que a palavra
técnica vem do grego techné,
significando arte
Sempre me preocupei com a
técnica; sempre pensei, como também Albrecht
Dürer pensou e escreveu, que a técnica é
tudo, na criação da arte".
Em
"O Grande Metafísico", a técnica está
incorporada e personificada nos apêndices geométricos
que sugerem o quanto estão intimamente relacionadas a técnica
da pintura e a inteligência do artista, no que diz respeito
à arte da pintura ou, num sentido mais amplo
como o vocabulário, a linguagem, a gramática e a
metodologia estão próximas da própria arte.
A
figura é tão grande, impressionante e poderosa no
interior do espaço, que se torna não somente uma
metáfora da essência do artista, como também
adquire uma configuração quase que abstrata.
O
Fundo
O
fundo da tela, ou melhor, o "palco" deste monumento
intrigante é uma típica praça urbana italiana.
Contudo, algo parece destoar em termos da nossa experiência
normal com esse tipo de local. As piazze são, geralmente,
os lugares mais cheios de gente, de vida e de calor humano nas
cidades italianas e, talvez, em cada cidade do mundo. Mas aqui,
a piazza está completamente vazia, e os únicos
personagens nesta peça metafísica são
as sombras projetadas no chão. As relações
espaciais bizarras e fora do comum da organização
pictórica, com o céu ocupando a metade da tela,
por exemplo, contribuem significativamente para aumentar a qualidade
enigmática e excêntrica da pintura.
A
imagem central ocupa todo o espaço na vertical e parece
atingir o céu, em oposição aos edifícios
clássicos de pouca altura da praça.
Esses
edifícios, que segundo o próprio artista, parecem
"brinquedos que, depois de várias tentativas, foram
colocados em seu lugar definitivo", são quase construções
abstratas, ao olharmos para a direita e para a esquerda, estendendo
suas sombras geométricas na área escura do solo,
e estão bastante iluminados justamente no fundo da tela.
Citando
Böcklin
Ao
fundo, podemos observar uma figura, pequena porém intrigante,
quase uma negra silhueta: trata-se de um monumento ou de uma pessoa?
Não
sabemos. Podemos somente reconhecer que essa enigmática
figura negra e sua sombra projetada é, provavelmente, um
tributo ao pintor romântico alemão
Arnold Böcklin, por quem De Chirico tinha muita admiração.
Encontramos a mesma imagem na tela de Böcklin "Odisseu e
Calipso" de 1883, que se encontra no Künstmuseum de Basiléia.
Temos
a sensação de que a praça não acolhe
generosamente o espectador. Aqui, o espectador é quase
um intruso, um turista que olha para tudo, mas sem entender o
significado real da cena e do seu contexto. Ele chegou no lugar
errado na hora errada, quem sabe, durante uma hipotética
sesta mediterrânea quando, de repente, o centro da cidade
se torna quase tão silencioso quanto um deserto. De toda
forma, a atmosfera resultante parece ser aquela de um dia vazio
de um feriado qualquer.
O
Mistério
A
preocupação com o espaço vazio e a característica
arquitetônica, cenográfica do fundo da tela expressa
que o território do trabalho é definido pelo mistério
que ele evoca. E esse mistério exige respeito.
Passar
de um canto a outro da piazza, explorar o espaço
externo infecundo, investigar as janelas claras e nuas e as arcadas
arquitetônicas escuras, ou dar uma olhada ao Grande Metafísico,
mudo como uma esfinge, não será suficiente para
decifrar a obra, a menos que possamos redefinir nossos limites
interiores. Só então podemos observar que algo de
intenso está sendo dito sobre as metáforas para
os estados da mente, os sonhos, a realidade imaginada, o repertório
de visões simbólicas por trás das aparências
superficiais, as nossas sensações subjetivas de
tempo e espaço em relação com e em função
da nossa memória. A memória exagera as proporções,
distorce as dimensões, simplifica as configurações,
muda as perspectivas de forma subjetiva, recria símbolos
objetivos a partir de imagens subjetivas, relacionando-os com
o passado e o presente.
Para
podermos entrar naquele território imaginário, precisamos
ir além da realidade material, das impressões objetivas
e do mundo dos sentidos, e experimentar a tensão que resulta
dos conflitos do artista na sociedade e dos conflitos do ser humano
no universo.
Combinando
os Opostos
Na
obra, tudo parece falar da coexistência de um elemento com
o seu oposto:
a
característica ativa e quase fálica da figura central,
em oposição à forma passiva e vaginal das
arcadas;
a
habilidade de tornar real e compreensível o que é
improvável ou fantástico;
a
capacidade de chocar com imagens e, ao mesmo tempo, relacioná-las
ao enigma de um momento lírico e metafísico,
como se já o tivéssemos vivenciado num certo momento
de nossa existência;
as
justaposições inexplicáveis da vastidão
da piazza em contraste com a dimensão infinitesimal
do elemento-matriz emprestado de Böcklin;
o
brilho da luz projetada e sua inconsistência com relação
à fonte de luz, que é quase negra e, de certo modo,
ameaçadora;
o
aspecto estático dos edifícios e a qualidade dinâmica
e quase inacabada do elemento principal da obra, produzindo uma
sensação de que o monumento não é
uma afirmação compacta, mas um sistema em mudança,
em permanente evolução;
a
ressonância emocional da atmosfera produzida e a qualidade
racional dos apêndices geométricos do monumento
Em
"O Grande Metafísico", podemos observar também
o processo que De Chirico utiliza de mover o objeto inanimado
no "espaço nobre da arte". Quem sabe, a piazza
é o palco árido e frequentemente estéril
chamado vida, e o monumento que desafia o espaço, criando
tensão, é um símbolo da relação
do homem com o universo e suas forças opostas, a solidão
da piazza sendo uma metáfora da expectativa da guerra
e da solidão do ato criativo. As diferentes sensações
de melancolia, isolamento, medo, desolação e nostalgia
parecem ser uma demonstração do mistério
que sustenta a realidade e um apelo às considerações
mitológicas, filosóficas e históricas (e
aqui, podemos relacionar a obra de De Chirico aos escritos filosóficos
de Nietzsche e Schopenhauer, os quais o influenciaram profundamente
na juventude).
O
flash de uma situação específica e
insensata confere um certo silêncio à
obra, tornando-se difícil relacioná-la a uma referência
musical específica (em confronto com os trabalhos dos impressionistas
ou dos românticos, por exemplo). Às vezes, parece
que ouvimos um eco distante, outras vezes, a mistura de melancolia,
surpresa e leve ironia parece nos remeter a uma composição
de Erik Satie. Mas no geral, o primeiro impacto é mais
literário do que musical, refletindo e, de certa forma,
requerendo silêncio.
Por
fim, o tratamento dado aos instrumentos de trabalho do artista,
de forma sublime e pouco comum, enfatiza a reivindicação
de uma condição privilegiada para o artista e a
arte. Como observou o crítico Achille Bonito Oliva: "
na arte, a realidade encontra o motivo de sua própria desordem,
de uma acidentalidade e de um nonsense evidente, que percorre
a existência". Se, de um lado podemos concordar com
a observação de Oscar Wilde de que "nenhum
artista deseja provar nada", por outro, podemos dizer que
uma das justificativas da arte é de que nos permite ver
mais claramente, sentir mais intensamente, ou pelo menos, ver
e sentir diferentemente, mesmo quando não entendemos imediatamente
o conteúdo de uma obra, mesmo quando somos absorvidos pela
desordem e irregularidade que a obra apresenta. Talvez, principalmente
nessas instâncias, poderíamos lembrar das palavras
um tanto paradoxais de Clarice Lispector: "Quando não
entendo uma pintura, aí é que ela existe."
Poderíamos
afirmar que De Chirico sabia como tirar vantagem da licença
criativa estendida aos artistas de inventar seus próprios
sistemas de mundos de imagens, atingindo a lucidez, a clareza,
a possibilidade de expandir e diferenciar a qualidade da obra,
não por meio de processos lineares e racionais, mas através
do extremo oposto: o Absurdo, o Ilógico, o Irracional,
fazendo próprias as palavras de Baudelaire, que advogou
por uma "Lógica do Absurdo", antecipando assim
a reivindicação surrealista de "desordenar
a lógica pelo absurdo e usar o absurdo até atingir
a razão" (Paul Éluard).
Naturalmente,
se observarmos o contexto histórico da época, com
os excessos criados pelas atitudes racionalistas e pragmáticas
com relação à vida, que acabaram desembocando
nos banhos de sangue da década de 1870, na primeira guerra
mundial e nas loucuras cometidas pelos sistemas políticos,
sociais e econômicos, fica fácil compreender a repulsa
para com a racionalidade e a desilusão na crença
de que o homem é uma criatura racional. A realidade precisava
ser redefinida em seu significado mais amplo.
Assim,
não parece redundante afirmar que não há
explicações ou definições simples
para explicar a obra ou a vida de um artista. E isso é
particularmente válido pada De Chirico, fonte de muitos
comentários e reações diferentes, indo do
"elogio ao desprezo e à condenação total",
como nota Margaret Crosland, em sua introdução às
Memórias de De Chirico.
Os
surrealistas que acolheram De Chirico como o primeiro pré-surrealista,
reconhecendo-o como o artista que tinha revolucionado a temática,
o vocabulário e as circunstâncias dos elementos nas
obras de arte, esses mesmos surrealistas decretaram a sua morte
(pelo menos como pintor, não como poeta) em 1918.
Enquanto
Apollinaire declarava, em 1914, que De Chirico era o mais surpreendente
pintor dos tempos modernos (opinião em parte compartilhada
por Jean Cocteau), por outro lado André Breton denunciava
a perda total de gênio artístico do pintor, e "a
fraude que ele tinha cometido contra o milagre", e Louis
Aragon incitava, indignado: "Olhem o que aconteceu com De
Chirico
". Toda essa controvérsia foi devida
ao fato que De Chirico começara a negar a importância,
em sua obra, do conceito de unicidade não repetível,
lançando mão de citações e auto-citações,
repetindo as mesmas imagens em numerosas cópias e, depois,
reproduzindo "réplicas" a partir de seus trabalhos
anteriores. De Chirico tornou-se, assim, um artista condenado,
aos olhos dos críticos e do mundo da arte.
Mas
até que ponto essa evolução, como disse Breton,
foi uma mera "tentativa de vender a mesma tela duas vezes"?
Será que ocorreu uma falta de consciência intencional,
ou uma ênfase planejada na técnica (e sabemos qual
o conceito que De Chirico fazia da técnica), em oposição
à importância dada à temática? Ou será
que, novamente, o artista teve uma espécie de perversa
clarividência, uma "antecipação do consumerismo
pragmático atual, expresso primeiramente no mundo da arte
dos anos 60, com a Pop Art e culminando nos anos 70 e 80 com os
movimentos da arte conceitual e do new painting?"
conforme sugere o marchand Claudio Bruni na introdução
do catálogo da exposição nova-iorquina: "Warhol
Versus De Chirico", dos anos 80.
Parece
claro que o trabalho de De Chirico foi reexaminado e reabilitado,
do ponto de vista da arte contemporânea, seja pelos críticos
que pelos demais artistas, e a exposição Warhol
Versus De Chirico, apresentando as réplicas estilizadas
feitas por Andy
Warhol de muitas obras de De Chirico, era uma prova da relatividade
de se julgar um artista somente pelo critério da unicidade
das imagens por ele utilizadas (especialmente na era pós-industrial
e da propaganda), e a relatividade de se definir a arte como um
fenômeno único e não repetível. Será
que se trata de uma questão metafísica? Será
que essa questão nos remete a algumas definições
controversas do que é a Arte? (como, por exemplo, as definições
dadas por Santo Agostinho: "Arte é o que o artista
faz", Joseph Beyus: "Arte é Capital", ou
Fernando Pessoa: "Arte é uma forma de dominação".)
Naturalmente,
a resposta não é simples. John Berger, entretanto,
nos oferece um pensamento que parece apropriado para concluir
este artigo. Em sua introdução a um artigo sobre
o pintor Courbet que, juntamente com Böcklin e Derain,
era um dos artistas favoritos de De Chirico, Berger afirma:
"Nenhum
artista pode ser reduzido "à" verdade independente,
nem a vida do artista ou a minha vida, ou a vida do leitor
A obra da vida é que constitui a sua própria
verdade, válida ou sem valor. As explicações,
análises, interpretações, não são
mais do que molduras ou lentes para ajudar o espectador a concentrar
a sua atenção com mais precisão no trabalho."
Nesse sentido, essas reflexões sobre "O Grande Metafísico"
têm o único objetivo de contribuir para ressaltar
a sua importância, beleza, qualidade artística, suas
ambiguidades e, principalmente, o seu mistério.
Mario
S. Mieli
Referências:
Giorgio
De Chirico:
http://www.dechirico.org
http://dechirico.freeweb.supereva.it/
De
Chirico e reprodução de "O Grande Metafísico":
http://www.geocities.com/Athens/6163/metaphys.html
Mostra
mais recente de De Chirico, no Spazio Oberdan de Milão:
"De
Chirico e a Metafísica do Mediterrâneo":
http://www.provincia.milano.it/oberdan/dechirico.asp
Arnold
Böcklin, em mostra em Florença, no Palazzo Pitti:
http://www.sbas.firenze.it/eventi/bocklin1.htm
Carlo
Carrà
http://www.futurism.fsnet.co.uk/carra/carra_frames.htm
Gustave
Courbet:
http://www.artcyclopedia.com/artists/courbet_gustave.html
André
Derain:
http://www.artcult.com/derain.htm
http://www.artchive.com/artchive/D/derain.html#images
Albrecht
Dürer:
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/durer/
René
Magritte:
http://www.magritte.com/
Andy
Warhol:
http://www.warholfoundation.org/
http://www.warhol.org/
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A
TRAVEL INSIDE Giorgio de Chirico's
THE
GRAND METAPHYSICIAN
by
Mario
S. Mieli
"
Meanwhile interest in the pictures I was painting, which I called
metaphysical, was growing. A young dealer named Paul Guillaume,
who was also a friend of Apollinaire's, bought a few paintings
from me. He also wanted to make a contract with me, which would
allow him to acquire my entire production. At the time, a few
of the dealers in Paris had begun to practice that nefarious habit
of monopolizing the work of a painter, with speeches and articles
each more equivocal than the other, while the so-called art critics
were hired to help. All these methods, combined with other factors,
have brought art in Europe to the state of shocking decadence,
which prevails today. Naturally, at that time I did not understand
certain things as I do today, although instinctively I felt disgust
and antipathy towards both the dealers and the critics. I saw
that the interest in my painting was increasing; I saw that the
reviews and the newspapers were reproducing my works; I collected
some money and some compliments; I was happy. But the fatal Year
of 1914 arrived; it was summer, hot and sultry. One fine day everything
became confused and uncertain; people crowded into the streets;
newspapers sold like hot cake; the assassination at Sarajevo:
the war."
From
de Chirico's Memoirs
First
Impressions
The
first impression caused by "The Grand Metaphysician" is the impact
of an enigmatic, odd and intense composition of elements. The
central image in the foreground is a gigantic sculpture with a
disproportionate bust or maybe a geometrically structured monument.
When you look at it from the front, its aspect and proportions
are intimidating.
The
Mannequin
The
main image seems to represent a Human figure: a mannequin supported
by geometric appendices.
The
face of the mannequin has no features and its body seems to be
made out of an assemblage of different tools: draftsmen's rulers,
squares, part of frames, maybe a fragmented easel. On the upper
right side we can see a red blanket, the kind of cover used by
artists to protect and hide their unfinished works.
It
is important to observe that in many other paintings by de Chirico
("The Disquieting Muses," "The Poet and His Muse," "The two sisters,"
"The Duo," "The Seer," "The Landscape Painter," "the Fatal Light,"
and so on), as well as in paintings by other metaphysical and
surrealist artists, like Carlo Carrà (in his "The Metaphysical
Muse," for instance) and Magritte, we find the same motif of a
mannequin-like face without distinguishable features.
De
Chiricos interest in such structures began in 1914, and
lasted for several years, suggesting "the articulated wooden figures
used in drawing classes, dressmakers' dummies, or Renaissance
lay figures and anatomical charts." As Arnason points out: "The
entire aura of these paintings recalls Renaissance architectural
perspectives of the fifteenth and sixteenth centuries, made dramatic
by extreme foreshortening and close-ups."
These
outlined images have an intense evocative power and seem to suggest
an attempt to break away from representing things as they are
and exist, in order to replace them with others, less specific
and more wide-ranging. Thus the superficial differences that exist
from man to man are diminished and a broader relation is made
to the deep consciousness, the genesis and the contours of the
being.
The
titles of the artworks where the mannequin appears indicate that
it represents the archeologist, the philosopher, the writer, the
poet, therefore incarnating the universal man.
There
is also a shocking element of self-identification in the faceless
mannequin, since the impersonal face mirrors the consciousness
of the viewer, and reflects a strong element of blindness, reminding
us of the Greek Goddess of Wisdom, Justice, Inventions and the
Arts: Minerva. Like Minerva, the blind mannequin mediates between
good and evil, space and time, the world of the senses and the
world of the intellect, and finally, it acquires clairvoyance.
Since the clairvoyant is basically blind to the present and the
immediate, he/she possesses the power of clairvoyance exactly
because of the fact that he/she is blind to him or herself, seeing
only because he/she re-constructs or rebuilds, like the artist.
Self-voyance/Art-voyance
In
this sense, the featureless face could be a symbol of the artist
himself represented as a clairvoyant, and the title of another
de Chirico's is highly suggestive: "The Seer." It could also be
a symbol of Art itself, represented as a muse who gives access
to a world of ambiguities, implications, connotations, associations,
ideas, qualities and functions.
The
timeless and consequently eternal face suggests the relationship
between the artist and Time itself. The body that supports the
face is an assemblage of juxtaposed instruments (in other canvases,
the body is made out of architectural and mythological elements,
shapes, and symbols borrowed from Antiquity,) suggesting the incorporation
of the Memory, Culture, and Technology of the past. The artist,
detaining the memory, culture and technology of the past, can
make it eternally present, transcending or erasing Time, just
like a clairvoyant. In other words, giving access to a certain
kind of clairvoyance, or to a kind of "self-voyance" or "art-voyance,"
so to speak.
Techné
= Art
The
body that supports the enigmatic face (and at this point one could
ask again: is it merely a face or art itself?) directly suggests
the body of techniques that support art and the artist himself,
with his methods, his experiments, his progress in applying his
skills, and his techniques. "Technique" is the key word to decipher
the body of the monument. As de Chirico wrote in his "The Technique
of Painting": "One should not forget that the word 'technique'
comes from the Greek techné, meaning Art
I
have always been preoccupied with technique; I have always thought,
as Albrecht Dürer also thought and wrote, that technique
is everything in the creation of Art."
In
"The Grand Metaphysician," the technique is embodied and personified
in the geometrical appendices that suggest how closely the technique
of painting is linked to the artist's intelligence concerning
the art of painting - or in a broader statement - how the vocabulary,
the language, the grammar and the methodology is close to art
itself.
The
figure is so big, impressive and powerful within the space that
it not only becomes a metaphor of the artist's essence, but also
gains an almost abstract configuration.
The
Background
The
background of the work, or better, the "stage" for this intriguing
monument is a typical Italian town square or piazza. But something
seems to be wrong in terms of our normal experience of such subject
matter. The piazze are usually the most crowded, the warmest
and the liveliest locations in Italian cities, and perhaps in
every city in the world. But here, the piazza is completely empty,
and the only characters in this 'metaphysical' play are the shadows
projected on the ground. The bizarre spatial relationships in
the pictorial organization, with the sky occupying half of the
canvas, for instance, contribute significantly to the odd and
enigmatic quality of the painting.
The
central image fills the entire space vertically and seems to reach
to the sky, in opposition to the low classical buildings of the
square.
According
to the painter himself, these buildings look like "toys, that
after several attempts had been set in their final position,"
and are almost abstract constructions if we look to the
right and the left, extending their geometric shadows over the
brown area of the square. They are brightly lit at the rear of
the work.
Quoting
Böcklin
At
the rear, we also note a small but intriguing figure, almost like
a dark silhouette: is it a monument or a person?
We
don't know. We can only recognize that this enigmatic black figure
with shadow is probably a tribute to the Romantic German painter
Arnold Böcklin, whom de Chirico admired very much. We can
find the same figure in Böcklin's "Odysseus and Calypso,"
from 1883, now located at the Künstmuseum of Basel.
We
feel that the square is not embracing the viewer warmly. Here,
the viewer is almost like an intruder, a tourist who is looking
at everything, but without catching the real meaning of the scene
and its context. He has arrived to the wrong place at the wrong
time, maybe during an hypothetical Mediterranean siesta, when
suddenly the center of the city lies in absolute quiet, like a
desert. Anyway, the resulting atmosphere seems to be that of an
empty holiday.
The
Mystery
It
seems that the concern with empty space and the architectural,
stage-like quality of the background expresses that the territory
of the work is defined through the mystery that is invoked. And
this mystery demands respect.
Traveling
from one corner of the piazza to the other, exploring the barren
exterior space, investigating the bright naked windows and the
dark architectural arcades, or glancing over at The Grand Metaphysician,
who is silent like a sphinx, won't be enough to decipher the work,
unless we redefine our interior boundaries. We then need to note
that there is also something intense being said about metaphors
for states of mind, about dreams, about the imagined reality,
about the repertoire of symbolic visions behind the surface appearances,
about our subjective sense of time and space in relation to and
as a function of our memory. It exaggerates proportions, distorts
dimensions, simplifies configurations, shifts perspectives subjectively,
re-creates objective symbols from subjective images, matching
them against the past and the present.
In
order to enter that imaginary territory, one must move beyond
the material reality, the objective impressions and the world
of the senses and experiment the tension that results from the
conflicts of the artist in society and the conflicts of man in
the universe.
Combining
the Opposites
In
the work, everything seems to speak of the coexistence of an element
with its opposite:
the
active and almost phallic quality of the central figure opposed
to the passive and vaginal-like shape of the arcades;
the
ability to make real and comprehensible what is improbable or
fantastic; the capacity to shock with images and at the same time
relate them to the enigma of a lyrical and 'metaphysical' moment,
as if we had already experienced it in a certain point of our
existence;
the
inexplicable juxtapositions of the contrasting vastness of the
piazza and the infinitesimal dimension of Böcklin's matrix
element;
the
brightness of the projected light and its inconsistency to the
light source, which is almost dark and somehow threatening;
the
static aspect of the buildings and the dynamic and almost unfinished
character of the main element, producing a feeling that the monument
is not a compact statement, but a changing system in permanent
evolution;
the
emotional resonance of the atmosphere and the rational geometric
appendices of the monument.
In
"The Grand Metaphysician," we also see de Chirico's process of
shifting the inanimate object into "the high space of art." Maybe
the piazza is the arid and often sterile stage called life,
and the monument that defies the space, creating tension, is a
symbol of man's relationship to the universe and its opposing
forces, the loneliness of the piazza being a metaphor to the loneliness
of the creative act. The diverse feelings of melancholy, isolation,
fear, desolation, and nostalgia appear to be a demonstration of
the mystery that sustains reality and an appeal to their mythological,
philosophical and historical overtones (and here, de Chirico's
work could be connected to Nietzsche's and Schopenhauer's philosophical
writings, which affected him deeply in his early years).
The
'flash' of a specific and insensate situation confers a certain
'silence' to the work, and makes it difficult to relate the work
to a specific musical reference (in contrast with to the works
of the Impressionists or the Romantics, for instance.) Sometimes,
we feel as though we hear a distant echo, at other times, the
mixture of melancholy, surprise and light irony would make us
think of an Erik Satie's composition. But in general, the first
impact is more literary than musical, reflecting and somehow requiring
silence.
Finally,
the treatment given to the artist's tools in a sublime and unusual
way enhance the claim for a privileged status for the artist and
for Art. As observed by art critic Achille Bonito Oliva: "
in art, reality finds the motive of its own disorder, of an accidentalness
and of an evident nonsense, which runs through existence." We
could agree with Oscar Wilde, when he says "no artist desires
to prove anything." On the other hand, one of the justifications
of art is that it allows us to see more clearly or to feel more
clearly. Or at least to see differently and to feel differently
even when we do not understand immediately the content
of a specific artwork, even when we are driven to the disorder
or irregularity that the work may present. Especially in those
instances, probably. We could borrow the paradoxical words of
Brazilian writer Clarice Lispector: "When I don't understand a
painting, then there is painting."
We
could affirm that painter de Chirico knew how to take advantage
of the creative license extended to artists to invent their own
world system of images, reaching the lucidity, the brightness,
the possibility to expand and differentiate the quality of his
work. Not through a linear and rational process, but from its
very opposite. The Absurd, the Illogic, the Irrational, making
his own the words of poet Baudelaire, who advocated for the "Logique
de l'Absurde," and anticipating in his work the surrealist statement
"disordering the Logic through the Absurd and using the Absurd
up to Reason" (Paul Eluard.)
Of
course, if we observe the historic context, with the excesses
created by the rational and pragmatic attitudes toward life which
had turned Western Europe into the bloodbaths of the 1870's, the
1914-18 world war and the follies committed by the political,
social and economical establishment, it isn't hard to understand
the disgust with rationality and the disillusion with the belief
that man is a rational creature. Reality had to be redefined in
its broadest meaning.
At
his point, it does not seem redundant to say that there are no
simple explanations or 'one liners' to explain an artist's work,
or an artist's life. And this is particularly valid for de Chirico,
who has caused so much comment, ranging from "eulogy to dismissal
or outright condemnation," as notes Margaret Crosland in her introduction
to de Chirico's Memoirs.
The
same surrealists who welcomed de Chirico as the first pre-surrealist
painter, revolutionizing the subject matter, the vocabulary and
the circumstances of the elements in the work, considered him
dead (at least as a painter, not as a poet,) in 1918.
While
Apollinaire declared, in 1914, that de Chirico was the most astonishing
painter of modern times (opinion shared in part by Jean Cocteau,)
on the other hand André Breton denounced his complete loss
of artistic genius, and "the fraud he was committing against the
miracle," and Louis Aragon called into question: "Look what happened
to de Chirico
" All that controversy was due to the fact
that de Chirico started to deny the significance in his work of
the concept of non-repeatable uniqueness, making use of quotation
and self-quotation, repeating the same images in numerous copies
and then, reproducing 'replicas' from his previous works. De Chirico
became a condemned artist to the eyes of the art critics and the
art world.
But
to which extent was this evolution, as Breton said, a mere "attempt
to sell the same painting twice?" Could it have been an intentional
unconsciousness or a planned emphasis on technique (and we know
what his concept of technique was) as opposed to the importance
of the subject matter? Or was it again a kind of perverse clairvoyance,
an "anticipation of the present pragmatic consumerism, first expressed
in the art world of the 1960's with Pop Art, which culminated
in the 70's and 80's with the movements of conceptual art and
new painting? as suggested by dealer Claudio Bruni in his introduction
to the catalogue of the New York exhibition "Warhol Versus de
Chirico" in the 80s.
It
seems clear that de Chirico's work has been re-examined and rehabilitated
from a contemporary point of view, both by the critics and the
artists, and the Warhol Versus de Chirico exhibition, where Andy
Warhol replicated many works of de Chirico was a proof of the
relativity of judging an artist only by the criteria of the uniqueness
of the images he used (especially in our advertising and post-industrial
age) and the relativity of defining art as a unique and non repeatable
phenomenon. Is this a metaphysical issue? Does it send us back
to some controversial definitions of Art? (such as "Art is what
the artist does" - Saint Agustin; "Art is Capital" - Joseph Beyus;
"Art is a Kind of Domination" - Fernando Pessoa.)
Naturally,
the answer is not simple. However John Berger offers a thought
which seems appropriate to conclude this article. In his introduction
to an article about Courbet, who was along with Böcklin and
Derain one of de Chiricos favorite artists. Berger says:
"No
artist is reducible to 'the' independent truth, like the artist's
life - or your or mine - The life's work constitutes its own valid
or worthless truth. Explanations, analysis, interpretation, are
no more than frames or lenses to help the spectator focus his
attention more sharply on the work." In this sense, the intention
of these reflections about "The Grand Metaphysician" is only to
contribute to enhance its importance, its beauty, its high artistic
quality, its ambiguities and, last but not least, its mystery.
Some
sites related to the artists cited in this article:
Giorgio
De Chirico:
http://www.dechirico.org
http://dechirico.freeweb.supereva.it/
De
Chirico e reprodução de "O Grande Metafísico":
http://www.geocities.com/Athens/6163/room4.html
Mostra
mais recente de De Chirico, no Spazio Oberdan de Milão:
"De
Chirico e a Metafísica do Mediterrâneo":
http://www.provincia.milano.it/oberdan/dechirico.asp
Arnold
Böcklin, em mostra em Florença, no Palazzo Pitti:
http://www.sbas.firenze.it/eventi/bocklin1.htm
Carlo
Carrà
http://www.futurism.fsnet.co.uk/carra/carra_frames.htm
Gustave
Courbet:
http://www.artcyclopedia.com/artists/courbet_gustave.html
André
Derain:
http://www.artcult.com/derain.htm
http://www.artchive.com/artchive/D/derain.html#images
Albrecht
Dürer:
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/durer/
René
Magritte:
http://www.magritte.com/
Andy
Warhol:
http://www.warholfoundation.org/
http://www.warhol.org/
samba<info@imediata.com>
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