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Sintax of Ilusion (engl)
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Lundberg
tem integrado os aspectos formais da pintura, da arte da performance
e do cinema para tratar de questões sobre a condição
humana.
Para
Lundberg, a narrativa verdadeira está contida dentro da
imagem.
Como
outros criadores, Lundberg foi motivado pelo novo expansionismo
na prática artística contemporânea, onde pintores
passavam a fazer cinema, escultores passavam para a pintura, e
as disciplinas estáticas se fundiam no campo cinético.
Elaborando
com base na teoria da "imaginação", os
atores de Lundberg conduziriam os membros da audiência para
a esfera das possibilidades, sem sobrepor uma narrativa completa.
Swimmer-1975
Silent
Dinner -1976
Charade-1976
Corner
-1983
Opening
-1998
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A
sintaxe da ilusão
Valerie
Cassel
Tradução
Imediata
Como
posicionar a obra de Bill Lundberg? Pioneiro no campo das instalações
contemporâneas de filme e vídeo, Lundberg se engajou
em investigações estéticas que pré-datam
e pressagiam aquelas realizadas por alguns de seus mais notáveis
contemporâneos, entre os quais se incluem Gary Hill, Bill
Viola e Tony Oursler. Por mais de trinta anos, Lundberg tem integrado
os aspectos formais da pintura, da arte da performance e do cinema
para tratar de questões sobre a condição
humana. Para compreender as inestimáveis contribuições
desse artista pioneiro, os espectadores devem antes experienciar
a sua presença ilusória. Lundberg é um mago
do coração humano. Percorrendo essa mostra, um pequeno
labirinto da carreira de Lundberg, o visitante é imediatamente
seduzido pelas criações do artista, assim como pela
sua habilidade de atrair o espectador para dentro do espelho da
vida.
As
instalações de filme e vídeo de Lundberg
lançam sinais ao espectador. Emergindo da escuridão,
seus feixes de luz nos atraem para um palco mágico, uma
esfera ilusória onde as aparições se tornam
atores cujas narrativas cuidadosamente concebidas servem para
tornar a condição humana transparente. As aparições
que surgem no palco ilusório de Lundberg são como
os espectadoreshomens, mulheres e criançasmas
que parecem estar presos dentro de um "globo de neve"
sacudido. Espiando-os atentamente dentro de seus mundos construídos,
acabamos entendendo esses atores como as dramatis personae, ou
seja, o elenco por trás da proverbial mensagem contida
dentro de uma garrafa. Suas existências evocam um senso
aguçado de consciência, tornando-nos, como espectadores,
auto-conscientes e cientes de nossa própria fragilidade.
Contudo, é somente através dos olhos e da perspectiva
de Lundberg que temos o privilégio de ingressar nesse novo
estado de consciência.(1) Suspendido no espaçoum
nadador flutuando numa piscina retangular ou pessoas miniaturizadas
gesticulando num copo dáguaos personagens que
vivem dentro da moldura do vídeo são incapazes de
ver o que nós vemos: a consciência por trás
do gesto, a emoção por baixo da ação,
a alma em espasmos de catarse.
Com
sua ênfase na imagem como meio condutor emotivo da linguagem
e do comportamento, Lundberg conecta a audiência com o seu
mundo ilusório, através de um momento fragmentado
no tempo. As narrativas não lineares, seja verbalizadas
seja por meio de gestos, tornam-se a ponte para o mundo externo,
artimanha seminal que nos ajuda a perceber a nossa própria
humanidade. É a compreensão individual e coletiva
do espectador, relativa à linguagem de cada personagem,
que permite a Lundberg mediar com habilidade a nossa percepção
da obra, como psicossocial.(2) O que nós, na qualidade
de espectadores, podemos imaginar poder preencher as lacunas
das cenas dos roteiros de Lundberg desperta nossas próprias
histórias e experiências. A ressonância entre
suas imagens e nossas próprias realidades, portanto, fornece
a Lundberg o poder, como artista, de remover o superficial e apresentar-nos
a essência de nosso ser.
"A
Sintaxe da Ilusão" presta homenagem à magia
de Lundberg. Ele manipula os extravasamentos da percepção
auditiva e visual de modo que os espectadores possam construir
suas próprias narrativas e chegar às suas próprias
e necessárias catarses. Essa obra está estreitamente
alinhada ao estruturalismo que se originou na Europa nos anos
60.(3) Mas o uso deliberado que Lundberg faz de momentos fragmentados
e o diálogo pronunciado no vazio fala mais do seu desejo
de privilegiar a imagem, isolando-a dentro do contexto da experiência
do espectador.(4) Há uma deliberada ação
de retirar a prioridade da linguagem: para Lundberg, a narrativa
verdadeira está contida dentro da imagem. Mesmo quando
a inversão que o artista efetua na tradição
que privilegia a linguagem dentro da hierarquia da comunicação
apresenta um novo ideal para a relação dual da linguagem
e da imagem, ela também engata uma nova consciência,
do tipo que capacita a imaginação e as percepções
do espectador acima da própria autoria do artista.
As
diretrizes estéticas de Lundberg nesses mais de trinta
anos de carreira estão firmemente enraizadas em dois elementos:
a contracultura dos anos 60 e o movimento que se afasta da pintura,
primeiro voltando-se à arte da performance e depois à
instalação de cinema e vídeo.
Lundberg
completou seus estudos superiores em pintura no fim dos nos 60,
na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Durante aquela
década, os protestos contra a guerra e o envolvimento dos
EUA no Vietnã e outros desafios às convenções
culturais prevalecentes dariam lugar a teorias e filosofias radicalmente
desafiadoras, ao interior das instituições acadêmicas.(5)
Essas teorias e filosofias estimularam o desenvolvimento de um
extremismo criativo na arte, incluindo uma livre exploração
de disciplinas artísticas e uma tentativa deliberada de
fazer ruir a própria arte, ou melhor, a hierarquia da criação
artística. Como outros criadores, Lundberg foi motivado
pelo novo expansionismo na prática artística contemporânea,
onde pintores passavam a fazer cinema, escultores passavam para
a pintura, e as disciplinas estáticas se fundiam no campo
cinético. Além de estar presente nas conferências
de Anna Freud, Lundberg frequentou o Canyon Cinema, descobrindo
os trabalhos experimentais de Michael Snow e de outros cineastas,
experiências que tiveram um efeito profundo na abordagem
do artista com relação ao fazer arte. Entretanto,
mais do que dedicar-se ao cinema em si, Lundberg voltou-se para
a performance, desenvolvendo um trabalho para uma audiência
menor de pequenos grupos que exploravam a psique humana.
Como
muitos jovens pintores no fim dos anos 60 e começo dos
anos 70, Lundberg começou a aplicar as propriedades da
pintura dentro de um modo de apresentação da obra
de arte mais cinético e expansivo. Sua arte de performance
subsequente, contudo, não procurou prestar homenagem ao
formalismo da pintura, ao contrário, explorou os extravasamentos
entre a narrativa visual real e aquela percebida. As investigações
de Lundberg no campo da performance emergiram de um desejo de
substituir o ato da fala com a imagem muda. Inerente a esse esforço
foi o desejo de privilegiar a imagem, de fazer com que a imagem
dominante na pintura abrangesse tanto a intenção
quanto a narrativa, na performance. Foi essa ênfase na imagem
ilusória, que poderia estar em paralelo às realidades
próprias do espectador, que finalmente permitiu a Lundberg
reconstruir o contexto humano como sendo o fator principal e,
portanto, gerar um maior senso de conexão com suas audiências.
O
interesse de Lundberg pelo contexto humano como fator fundamental
da estrutura narrativa, posteriormente conduziu o artista a incorporar
um elemento estruturalista em sua obra. Ao permitir que o espectador
ativasse sua própria imaginação, a imagem
concedeu-lhe a propriedade de sua própria narrativa, ao
contrário de depender de Lundberg como o único autor.
(6) Para que a dualidade tradicional entre autor e
imagem se expandisse de modo a incluir o espectador como autor,
a imagem tinha que ser primáriadestituída
de qualquer barreira que pudesse prevenir a inserção
do espectador como autor de sua própria narrativa.
No
começo dos anos 70, Lundberg transferiu-se para Londres
para continuar suas explorações do estruturalismo
e da performance. Essas explorações culminaram num
trabalho de performance com três atores, titulado Him
(Ele). A obra, beckettiana em seu emprego de uma
narrativa não linear e fragmentada, solicitava as experiências
e percepções da audiência para completar a
estória, a qual teve tantas soluções quantos
eram os membros da audiência. Elaborando com base na teoria
da "imaginação", os atores de Lundberg
conduziriam os membros da audiência para a esfera das possibilidades,
sem sobrepor uma narrativa completa. As audiências foram
autorizadas a participar do processo criativo, determinando a
conclusão do script do artista, através de suas
próprias construções para os personagens.
Na verdade, o personagem segundo o script existiria como pessoa
completa na mente do espectador somente na medida em que cada
ator discutisse seu respectivo personagem, com base nas diferentes
pessoas conhecidas pelo espectador. Essa ativação
da imaginação era, na mente de Lundberg, o aspecto
mais forte do trabalho da performance, um elemento bem-sucedido
que ele queria traduzir num meio mais íntimo, se bem de
que ainda populistaum meio concebido essencialmente para
contracenar jogando com as pressuposições do espectador.
A estrutura conceitual de Him gerou uma nova sintaxe para
a construção da narrativa. Por meio desse mecanismo
interativo, Lundberg continuou a explorar o conteúdo ficcional
de um modo "imaginário".(7) Mais tarde, ele incorporaria
essa nova sintaxe em sua primeira instalação de
filme, Swimmer (Nadador) (1975). Ansioso para se
voltar a uma prática visual dotada de uma técnica
mais formal aprendida com o seu trabalho em performance, Lundberg
estendeu a sua estética de uma "nova consciência"
ao filme. Swimmer é um trabalho seminal para Lundberg,
que usou o filme para reduzir ainda mais a tênue separação
entre ilusão e realidade. Apresentando aos espectadores
uma realidade paralela, Swimmer contém extravasamentos
para o interior da percepção emocional do espectador.(8)
Destituído de uma linguagem falada, e encarnando, portanto,
o ideal de narrativa abrangido pela imagem, Swimmer inclui
uma série determinada de gestos com os quais o ator da
instalação transmite uma série de emoções.
Os espectadores interpretam esses gestos com base em sua própria
compreensão social. Lundberg levou adiante o processo,
incorporando a forma de apresentação da obra como
um elemento essencial: para ressaltar o estado psicológico
de vulnerabilidade, Lundberg colocou a imagem da instalação
no chão. O intento era mostrar o ator como estando preso
dentro de uma dimensão que não permite fuga. Apesar
das tentativas do ator de se conectar com os espectadores, ele
consegue apenas flutuar para as margens do seu confinamento, e
olhar para cima. O mundo do banhista é o da alienação,
embora a extensão de água que contém o seu
mundo sugira que ele não está totalmente desesperançado.
Ele deve reconciliar sua aparente desesperação com
sua habilidade de emergir de fato dessa situação.
Quando o ator sai de sua prisão retangular (não
mostrada na gravura desta exposição), ele sai andando
em direção à luz eterna do nada.(9)
Depois
da exibição de Swimmer no Institute for Contemporary
Art (ICA) em Londres, Lundberg retornou aos EUA e fixou residência
em Nova York. Ele começou a expor na Gibson Gallery no
SoHo, apresentando novamente Swimmer, além de uma
nova obra, titulada Silent Dinner (Jantar Silencioso)
(1975-76). Naquela época, a Gibson Gallery apoiava
um número de jovens artistas de vanguarda dedicados às
instalações de filmes e vídeos, incluindo
Vito Acconci, Dennis Oppenheim, Leandro Katz e outros. Em meados
dos anos 70, as instalações de filmes e vídeos
ainda eram consideradas explorações marginais na
arte contemporânea. Somente no começo dos anos 80
a prática das instalações de filme e vídeo
seriam legitimadas pelos museus de arte. Durante esse período,
Lundberg criou também a obra titulada Charades
(Charadas) (1977).
Da
mesma maneira que em Swimmer, Charades lida com
a noção do artista de que a linguagem é subserviente
à imagem, assim como com a construção psicológica
de restrição. Na obra, cinco atores comunicam através
de um jogo de charadas, as quais limitam a expressão a
gestos silenciosos. Na interpretação de Lundberg,
os atores jogam o jogo dentro de um mundo hermeticamente fechado
(inacessível à participação do espectador).
Lundberg também mudou as regas do jogo. Ao invés
de usar palavras ou frases comuns, ele escolheu citações,
escritas por artistas famosos e não tão famosos,
que questionam a qualidade ilusória da arte e da linguagem
visual. Um total de oito citações, entre as quais:
A
arte é a definição da arte. (Sol LeWitt)
A
arte é a mentira que revela a verdade. (Pablo Picasso)
A
arte é como um relógio que, às vezes, anda
mais acelerado. (Franz Kafka)
A
arte é longa e o tempo é passageiro. (ator anônimo
protagonista de Charade)
A
imagem projetada dessas citações enfatiza a sugerida
e etérea natureza da arte e o abismo que há entre
e arte e a realidade dentro da qual ela existe. A obra é
contemplativa, apresentando a discussão desses ideais como
exploração íntima. A mecânica da obraatores
filmados projetados em uma folha de plástico submersa num
copo dáguaserve para ampliar os aspectos invisíveis
do processo de criação artístico e revelar
o contexto humano subjacente (nesse caso, a prática e o
intento do artista), juntamente com uma nova consciência
da vulnerabilidade do artista. O tamanho diminuto da imagem projetada
evoca, para Lundberg, a impotência que o artista sente em
suas tentativas de se fazer valer dentro do contexto social mais
amplo.
Ironicamente,
nos anos 80, as inovações vanguardistas das instalações
em filme e vídeo foram ofuscadas por um novo movimento
na pintura. Tendo como pontas de lança um grupo de jovens
pintores, entre os quais se incluíam Julian Schnabel, Jean-Michel
Basquiat, Keith Haring e Kenny Sharf, o movimento atraiu a mutante
subcultura nova-iorquina, captando a atenção do
mundo da arte e, subsequentemente, do mercado da arte. Com menos
ênfase colocada nas instalações de filme e
vídeo, as obras de Lundberg viram reduzidas as suas oportunidades
de exposição.
Em
1983, Lundberg apresentou a instalação Corner
(Canto, Esquina) na Bienal do Whitney Museum of American Art,
Nova York. Corner é a resposta pessoal de Lundberg
à repentina mudança no clima estético e cultural
de Nova York. Inicialmente apresentada como desenho (incluído
nesta mostra), Corner chamou a atenção de
John Hanhardt, curador do Whitney, que encorajou Lundberg a recriá-la
na forma de uma instalação.(10) A instalação
apresenta um menino de cinco anos jogando um solitário.
Há um certo ar de pessimismo à medida que o menino
tenta controlar o jogo, para o qual não existe controle.
O espectador sente a frustração da criança,
enquanto o menino tenta fazer sentido de algo que está
além do fácil entendimento ou predição.
O retraimento alienado evidente na obra espelha o estado emocional
do próprio artista na época, quando lhe faltavam
os meios para lidar com as rápidas mudanças que
sacudiam o mercado da arte e o mercado residencial de Nova York.
Em 1985, Lundberg deixou Nova York.
Ele
foi convidado a ensinar na The University of Texas, em Austin,
e posteriormente, contratado para criar o Departamento de Transmídia.
Nos vinte e cinco anos seguintes, Lundberg continuou a desenvolver
idéias para suas instalações de filmes e
vídeos, exibindo esporadicamente nos EUA e no Brasil. A
colaboração contínua com sua esposa, a cineasta
e artista conceitual Regina Vater, permitiu uma expansão
do vocabulário de sua obra. Em 1999, Lundberg foi o artista
escolhido para receber uma bolsa de artista-em-residência
concedida pela Pace Art Foundation for Contemporary Art, de San
Antonio. A bolsa-residência da ArtPace seria um ponto decisivo
na carreira do artista, fornecendo-lhe tempo e o suporte financeiro
necessários para criar uma nova série de trabalhos.
Durante a residência, Lundberg criou Opening
(que em inglês significa tanto Buraco ou Abertura,
como Vernissage ou Inauguração), além
de resgatar e recriar digitalmente Madeline (ambos
de 1999), sendo que essa última obra consta da presente
mostra.
Opening,
uma narrativa visual fragmentada de uma suposta recepção
de inauguração, ou vernissage, foi filmado em 16mm,
usando espelhos e um enredo coreográfico para os atores.
A obra levou Lundberg a reinvestigar uma representação
mais íntima da vida na obra Madeline, que começou
como filme Super-8 em 1977, mas foi deixada de lado pelo artista
como idéia inacabada. Entretanto, durante o período
de residência na ArtPace, Lundberg redescobriu o filme e
o gravou em vídeo digital (seu primeiro trabalho neste
novo meio). Durante os vinte e dois anos necessários para
completar a obra, Lundberg deu a volta completa em suas explorações
artísticas quanto ao seu engajamento no formalismo da pintura
e na performance.
Em
Madeline, a exploração de relacionamentos
pessoais através de uma narrativa não linear e em
grande parte falada forma o nexo entre o amor inicial de Lundberg
pela pintura e seu interesse pela arte da performance: a obra
recoloca o nu dentro do contexto da história da arte (vemos
somente os pés de Madeline no chuveiro), enquanto
sonda-se verbalmente a complexa psicologia do quotidiano. O diálogo
inicial do trabalho era muito mais longo, mas Lundberg abreviou
a narrativa para criar uma ficção mais abstrata
e ambígua, representando o relacionamento entre duas pessoas.
A integração entre o diálogo falado e os
gestos coreografados mostra o uso que Lundberg faz do cinema,
não só para confrontar a realidade trivial, mas
também para revelar a dinâmica da interação
humana. Embora o trabalho sugira uma ficção em particular,
sua força reside em sua habilidade de servir como meditação
do próprio espectador sobre seus relacionamentos privados.
Lundberg
entrevistou vários casais e pessoas solteiras para a obra
e, mais tarde, optou por gravar o texto usando dois atores que
não constituíam um casal e nem mesmo se conheciam.
Lundberg conseguiu, entretanto, captar a intimidade do intercâmbio
existente num casal. Essa intimidade é ampliada ainda mais
pela condensação da imagem: o fragmento de um contexto
arquitetônico mais amplo pressupõe não somente
uma história por trás do relacionamento, como também
um espaço imaginárioum banheiro, um quarto,
uma casa. Embora o título da obra possa indicar uma escolha
em função do nome da atriz protagonista, Lundberg
usa o nome como uma ilusão para assegurar aos espectadores
de que o filme é um retrato autêntico de uma mulher
real que está, ao mesmo tempo, engajada e alienada em seu
próprio relacionamento.
Wash
(A Lavagem) (2001), exibido pela primeira vez nesta mostra, como
trabalho em obras, expande as investigações de Lundberg
com relação ao retrato íntimo. Criada quase
trinta anos depois de Swimmer, Wash demonstra o
senso aguçado de Lundberg sobre como os perfis psicológicos
são transmitidos por meio da linguagem gestual. Concebida
como uma exploração pessoal da mortalidade, a obra
é composta de doze imagens (das quais seis são apresentadas
na presente mostra) de homens numa idade entre oitenta e noventa
anos, pegados no ato de lavar as mãos. Inspirado pela morte
de seu pai e pela sua própria consciência do envelhecimento,
Lundberg começou a contemplar os elementos da reflexão
sobre o fim da vida, perguntando o que se vê na história
de vida de cada um e como essas vidas são refletidas, literal
e metaforicamente. O lavar as mãos é um ato simbólico
de expiação, sobretudo na investigação
de Lundberg, onde doze instalações de homens lavando
as mãos sugere a justiça dosada por doze jurados.
Mas esta é a justiça que reside na mente de indivíduos
que se julgam a si próprios e às suas ações
no fim da vida. A individualidade é evidente, através
dos vários modos de lavar as mãos, um ato tão
entranhado que chega a tornar transparente cada complexo estado
do ser.
A
escolha de Lundberg de usar homens na faixa dos oitenta anos ou
mais fala de sua preocupação maior com as injustiças
que se verificaram no século passado e quais as suas implicações
no presente. Homens daquela geração foram forçados
pelas obrigações prevalecentes a servir e a sustentar.
Em parte como tributo ao seu pai, capitão naval e veterano
de guerra, Wash (A Lavagem) talvez represente melhor o
dom da transparência de Lundberg, criando uma válvula
de escape para os espectadores de modo que possam ver a sua própria
vulnerabilidade, tanto como autores quanto como sujeitos. Finalmente,
o mago se revela através de sua própria ilusão.
A
arte de Lundberg está revelada também por meio de
uma série de desenhos e esboços. Os desenhos incluídos
na mostra nunca foram exibidos antes. Eles existem tanto como
estudos para as instalações de filme e vídeo
de Lundberg, quanto como produtos de um artista plástico
formal. Os doze desenhos mostrados são somente uma fração
do trabalho que o artista executou ao longo de sua carreira. Eles
transmitem os mecanismos interiores da mente do artista, os traços
visíveis da arte do mago. Nesses desenhos Lundberg oferece
aos espectadores os planos de seus mundos ilusórios, destituídos
aqui dos extravassamentos que o meio fílmico e a narrativa
dirigida permitem. É um ato generoso do artista, cujo trabalho
nesses mais de trinta anos estabeleceu as bases para que surgisse
o movimento gerador das instalações de filme e vídeo.
A honestidade da obra desse artista é profunda, e seus
esforços nos fazem sobreviver ao labirinto, permitindo
que tenhamos uma maior compreensão de nós mesmos.
NOTAS
(1)
Robert Morgan, ed. Art and Performance: Gary Hill (Baltimore and
London: Johns Hopkins University Press, 2000), p. 6. Existem muitas
correlações artísticas entre a obra de Lundberg
e aquela de alguns de seus conteporâneos, incluindo Gary
Hill e Bill Viola. A descrição de Morgan relativa
à obra de Hill é bastante relevante para Lundberg.
(2)
Ibid.
(3)
Arthur Marwick, The Sixties: Cultural Revolution in Britain, France,
Italy, and the United Sttes, c.1958-1974 (Oxford and New York:
Oxford University Press, 1998), pp. 289-358.
(4)
Bill Lundberg, entrevista com a autora, 22 de setembro de 2001.
(5)
Marvick, pp. 289-358.
(6)
Jacques Derrida, Of Grammatology, Gayatri Chakravorty Spivak,
trans. (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1974), pp.
6-26.
(7)
Bill Lundberg, entrevista com a autora, 22 de setembro de 2001.
Lundberg examina o seu próprio uso da linguagem como submissa
à imagem e à estrutura conceitual do espectador
como autor.
(8)
Bill Lundberg, entrevista com a autora, 22 de setembro de 2001.
(9)
Bill Lundberg, entrevista com a autora, 22 de setembro de 2001.O
artista discute a importância de sua obra Swimmer em seus
trabalhos posteriores.
(10)
Bill Lundberg, entrevista com a autora, 22 de setembro de 2001.
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A
Agência Imediata agradece o artista Bill Lundberg pela permissão
de mostrar online partes de seu trabalho em vídeo, e o
Contemporary Arts Museum de Houston, Texas e Valerie Cassel, autora
do presente texto, pela autorização de publicar
o texto original do catálogo da mostra do artista e sua
respectiva tradução para o português.
O texto "A Sintaxe da Ilusão" consta da publicação
preparada para a exposição individual de Bill Lundberg:
Syntax of Illusion, a 131¼ mostra da série Perspectives,
organizada por Valerie Cassel, Associate Curator do Contemporary
Arts Museum de Houston, Texas. A mostra ocorreu entre 14 de dezembro
de 2001 e 3 de março de 2002.
Contemporary Arts Museum
5216 Montrose Boulevard
Houston, Texas 77006-6598
www.camh.org
samba<info@imediata.com>
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