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HOLLYWWOOD? HURRA! Que tal se Hollywood fizesse um filme chamado Operação Ciclone, mostrando como a CIA treinou terroristas islâmicos, estrelando Bruce Willis no papel de Bush? |
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John
Pilger Tradução
Imediata |
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Uma dessas noites assisti o filme Fronteiras de Sonhos e Medos (Frontiers of Dreams and Fears), de Mai Masri. Era um videoteipe, como a maioria dos seus admiráveis trabalhos a respeito dos palestinos; dez filmes ao todo, e que neste país não foram mostrados nem nos cinemas nem na televisão. Desde o campo de refugiados de Chattila, em Beirute, e do campo de Dheisha, em Belém, o filme conta a história de duas garotas refugiadas e de suas respectivas jornadas em torno da cerca/cadeia que divide sua terra natal e as separa uma da outra. É uma rara espiada da verdade por trás das notícias cruéis da Palestina. Vi o filme na noite da entrega do Óscar e, durante as pausas do vídeo, intervinham as imagens de HolIywood: atores untuosos e jingoístas. E clipes das máquinas "blockbuster"1 de fabricar dinheiro que são o extremo oposto da verdade de Mai Masri. Talvez a cerimônia do Óscar pareça um circo inofensivo: até que paramos para pensar no que isso realmente representa. Recentemente, David Puttnam, o produtor que já ganhou um Óscar, levantou a questão. Ele descreveu o fracasso do cinema popular que não consegue atingir os "milhões de jovens [que] estão crescendo nos campos de refugiados" e "o potencial para uma explosão devastadora". Acrescentou: "Se nós [no ocidente] nos tornamos simplesmente fabricantes de filmes calcados na tecnologia, nos efeitos especiais, na simplicidade emocional, etc. para representar o mundo, então receio que o deslocamento entre o cinema de massas e qualquer realidade perceptível será, simplesmente, grande demais com consequências que nos afetarão a todos." Esse deslocamento é agora tão grande que a propaganda cultural, que é o que Hollywood sempre foi, representa agora mais de 80 porcento dos filmes vistos na Grã-Bretanha e em muitos outros países. O poder de suas mensagens sobre "o american way of life" é tal que parece estarmos de volta na era do pós Segunda Guerra Mundial, quando o establishment empresarial dos EUA promovia a paranóia com relação aos inimigos internos e externos. Os estrangeiros caiam precisamente nas categorias de dignos ou indignos: pela América ou contra a América. Em Hollywood, a história foi reduzida a "épicos" tais como Exodus, no qual os refugiados dignos (os judeus) colonizaram a Terra Santa e palestinos indignos, submetidos à condição de refugiados em sua própria terra, tornavam-se invisíveis. Esse povo destituído, agora é representado nos filmes de ação americanos, juntamente com outros muçulmanos, como terroristas. Em seguida à Guerra do Vietnã, na qual cerca de cinco milhões de vietnamitas foram mortos durante a invasão americana, e sua terra destruída e envenenada pelas armas americanas de destruição de massa, Hollywood veio salvar a pátria com uma série de filmes Rambo-e-angst que convidavam a audiência a se solidarizar com os invasores. Esses filmes providenciavam um purgativo cultural que ajudava a abrir caminho para que a América montasse outros Vietnãs em El Salvador, na Guatemala, Nicarágua, Panamá, Somália e em outros lugares. A atual "guerra contra o terrorismo" se escora nas mesmas caricaturas de Hollywood. Filmes como Black Hawk Down, o qual promove uma versão mentirosa da farra mortífera americana na Somália, funcionam como "suavizantes" culturais antes que, na realidade, as bombas recomecem. Mesmo em filmes de fino acabamento, como The Deer Hunter e Platoon, que parecem num primeiro momento quebrar a tradição, há um implícito juramento de lealdade à cultura imperial. Isso foi verdadeiro no caso de Three Kings, um filme que parecia tratar da guerra do Golfo, mas que ao contrário, produziu uma lenda familiar tal como a da "maçã podre", exonerando o militarismo hoje tão difundido. Hollywood é tão dominante em nossas vidas, e tão conspiratórios são os seus críticos puxa-sacos que os filmes que deveriam ter sido produzidos se tornaram tabu. Se tentarmos nos lembrar dos filmes de audiência de massa que lançaram uma luz sobre a vasta sombra projetada pelo estado secreto americano, e a violência que sofreram pelo mesmo, somente uns poucos títulos me vêm em mente: Missing de Costa-Gavras, que tratava da destruição do governo democraticamente eleito do Chile pelos operadores da marionete General Pinochet, em Washington, e Salvador, de Oliver Stone, o qual fez a conexão entre a Washington de Reagan e os esquadrões da morte de El Salvador. Ambos esses filmes foram ciladas do sistema, financiados com muita dificuldade e, no caso de Missing, perseguidos obstinadamente através de processos vingativos na justiça. A chacina de cerca de 8.000 destituídos urbanos durante o ataque de George Bush Sênior ao Panamá em 1990 faria um belo filme de ação. E porque não criar uma sequência para Black Hawk Down, desta vez com os 8.000-10.000 somalis mortos (estimativa da CIA) que foram cancelados da aerografia original? Ou que tal um épico sobre Davi e Golias, ambientado na Palestina de hoje, com jovens palestinos encarando os tanques e caça-bombardeiros americanos operados por israelenses? "As horrorosas imagens do [11 de setembro] tiveram toda a ressonância de um filme contemporâneo de Hollywood . . ." escreveu David Puttnam. "A tentação de buscar compreender essas imagens em termos cinemáticos foi um testamento ao poder do cinema. Mas a analogia pareceu completamente inadequada ". Isso pode ser verdadeiro se é excluído um modo de se fazer cinema que nos ajude a compreender porque o 11 de setembro aconteceu. O título de um filme desses poderia ser Operação Ciclone, a senha que a CIA usou para criar uma organização terrorista islâmica em 1979, sob as ordens secretas do presidente Jimmy Carter. Financiada com $4bilhões de dólares provenientes dos contribuintes americanos, os instrutores da Operação Ciclone treinaram terroristas em campos do Paquistão e no estado de Virgínia, e os recrutaram na escola islâmica do Brooklyn, em Nova York, a uma distância de onde as torres gêmeas podem ser vistas. De fato, o espetáculo terrível do 11 de setembro poderia ser o final da sequência, com o patriótico Bruce Willis no papel de George W Bush. N.T.: 1 blockbuster, literalmente, bombas arrasa-quarteirão O novo livro de John Pilger, The New Rulers of the World, será publicado no próximo mês pela Verso
Hollywood Hurrah What about Hollywood making a film called Operation Cyclone, telling how the CIA trained Islamic terrorists and starring Bruce Willis as Bush? by John Pilger April 06, 2002
I sat down the other night to watch Mai Masri's film Frontiers of Dreams and Fears. It was on videotape; like most of her remarkable work about the Palestinians, ten films in all, it has not been shown in the cinema or on television in this country. From Shatila refugee camp in Beirut and Dheisha camp in Bethlehem, the film tells the story of two refugee girls and their journey to the chain-link fence that divides their homeland and separates them from each other. It is a rare glimpse of the truth behind the relentless news from Palestine. I watched it on the night the Oscars were shown, and during pauses in the video, images of Hollywood intervened: unctuous and jingoistic actors, and clips from blockbusting money machines that are the exact opposite of Mai Masri's truth. Perhaps the Oscars seem a harmless circus: until you stop and think of what they represent. David Puttnam, the Oscar-winning producer, raised this question in the Guardian recently. He described the failure of popular cinema to reach out to the "millions of young people [who] are growing up in refugee camps" and "the potential for a devastating explosion". He added: "If we [in the west] simply become manufacturers of films which rely on technology, special effects, emotional simplicity and so on to portray the world, then I fear that the dislocation between mainstream cinema and any perceptible reality will simply become too great - with consequences which will affect us all." The dislocation is now so great that the cultural propaganda that was always Hollywood accounts for more than 80 per cent of the films seen in Britain and many other countries. The power of their message about "the American way of life" is such that it seems we are back to the post-Second World War era when the American business establishment promoted a paranoia about enemies within and abroad. Foreigners fell neatly into categories of worthy or unworthy: for America or against America. In Hollywood, history was reduced to screen "epics" such as Exodus, in which worthy (Jewish) refugees settled in the Holy Land and unworthy Palestinians, made refugees in their own land, were invisible. These dispossessed people are now portrayed in American action movies, along with other Muslims, as terrorists. Following the Vietnam war, in which around five million Vietnamese were killed during the American invasion, and their land was destroyed and poisoned by American weapons of mass destruction, Hollywood came to the rescue with a string of Rambo-and-angst films that invited the audience to pity the invader. These films provided a cultural purgative that helped clear the way for America to mount other Vietnams - in El Salvador, Guatemala, Nicaragua, Panama, Somalia and elsewhere. The current "war on terrorism" is underpinned by the same Hollywood caricatures. Films like Black Hawk Down, which promotes a mendacious version of America's killing spree in Somalia, act as cultural "softeners" before the bombing starts again for real. Even in finely crafted films like The Deer Hunter and Platoon that look as if they might break ranks, there is an implicit oath of loyalty to imperial culture. This was true of Three Kings, a movie that seemed to take issue with the Gulf war, but instead produced a familiar "bad apple" tale, exonerating the militarism that is now rampant. So dominant is Hollywood in our lives, and so collusive are its camp-following critics, that the films that ought to have been made are unmentionable. Name the mainstream movies that have shone light on to the vast shadow thrown by the American secret state, and the mayhem for which it is responsible. I can think of only a few: Costa-Gavras's Missing, which was about the destruction of the elected government in Chile by General Pinochet's puppet masters in Washington, and Oliver Stone's Salvador, which made the connection between Reagan's Washington and El Salvador's death squads. Both these films were quirks of the system, funded with great difficulty and, in the case of Missing, dogged by vengeful court actions. The slaughter of up to 8,000 urban poor in George Bush Sr's attack on Panama in 1990 would make a fine action movie. And why not a sequel to Black Hawk Down, this time with the 8,000-10,000 Somali dead (a CIA estimate) who were airbrushed from the original? Or how about a David and Goliath epic set in modern Palestine, with young Palestinians facing down American tanks and warplanes operated by Israelis? "The appalling images of [11 September] had all the resonance of a contemporary Hollywood movie . . ." wrote David Puttnam. "The temptation to try to comprehend these images in cinematic terms was a testament to the power of film. But the analogy felt entirely inadequate . . ." That may be true if you rule out film-making that allows us to comprehend why 11 September happened. The title of such a movie could be Operation Cyclone, the code name the CIA used when it set up an Islamic terrorist organisation in 1979 on the secret order of President Jimmy Carter. Funded by $4bn of American taxpayers' money, the tutors of Operation Cyclone trained terrorists at camps in Pakistan and in Virginia, and recruited them at an Islamic college in Brooklyn, New York, within sight of the fated twin towers. Indeed, the terrible spectacle of 11 September could be the final sequence, with the patriotic Bruce Willis playing George W Bush. John Pilger's new book, The New Rulers of the World, will be published next month by Verso Envie
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