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A Venezuela e a censura; a resposta dos meios de comunicação britânicos à conspiração na Venezuela forneceu uma aula exemplar de como a censura funciona nas sociedades livres. O episódio foi uma vergonha jornalística. |
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John Pilger Tradução
Imediata |
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No mês passado, escrevi sobre a Venezuela, ressaltando que muito pouco tinha sido reportado aqui na Inglaterra sobre as realizações de Hugo Chavez e a ameaça contra o seu governo reformista da parte da aliança habitual entre a elite corrupta local e os Estados Unidos. Quando os conspiradores agiram no dia 12 de abril, a resposta dos meios de comunicação britânicos forneceu uma lição exemplar de como a censura funciona nas sociedades livres. A BBC descreveu Chavez como "não tanto um democrata, quanto um autocrata", repetindo as palavras do ministro das Relações Exteriores Denis MacShane, que o ofendeu de "um demagogo vociferante". Alex Bellos, o correspondente do The Guardian para a América do Sul, reportou, como fato, que "os livre-atiradores pró-Chavez tinham matado pelos menos 13 pessoas" e que Chavez tinha pedido asilo a Cuba. "Milhares de pessoas celebraram durante a noite, acenando bandeiras, tocando apitos ", deixando o leitor com a clara impressão de que quase todo mundo na Venezuela estava feliz de ver esse "valentão de circo" - como o The Independent o chamou - voltar as costas. Em 48 horas, Chavez estava de volta, reempossado pelo povo, que saiu de suas favelas em dezenas de milhares. Desafiando o exército, o heroísmo dessas pessoas foi o de apoiar um líder cujas credenciais democráticas são extraordinárias para as Américas, norte e sul. Tendo ganhado duas eleições presidenciais, a última em 2000, e por uma grande maioria, a mais significativa em 40 anos, assim como um referendo e eleições locais, Chavez renasceu ao poder pela maioria empobrecida, cuja "sina", conforme escreveu Bellos, ele "falhou em melhorar" e entre os quais "a sua popularidade despencou". O episódio foi uma vergonha jornalística. Grande parte do que foi escrito por Bellos e por outras pessoas, usando palavras e frases similares, revelou-se errôneo. No caso de Bellos, isso não causou surpresa, já que estava reportando de um outro país, o Brasil. Chavez disse que nunca pediu exilo a Cuba; entre os franco-atiradores quase seguramente se incluíam agentes provocadores; "quase todos os setores da sociedade antagonizados [por Chavez]" eram sobretudo membros das várias oligarquias a quem fez pagar impostos pela primeira vez, incluindo os meios de comunicação e as companhias de petróleo, cuja tributação ele dobrou com o objetivo de levantar o nível de vida de 80 porcento da população. Seus oponentes também incluíram oficiais do exército treinados na notória School of the Americas, nos Estados Unidos. Em poucos anos, Chavez iniciou importantes reformas a favor dos pobres indígenas, as "não-pessoas" da Venezuela. Através das 49 leis adotadas pelo Congresso Venezuelano, ele começou uma verdadeira reforma agrária, e garantiu os direitos das mulheres e saúde e educação gratuita até o nível universitário. Ele se opôs aos abusos contra os direitos humanos praticados pelo regime vizinho da Colômbia, encorajado e armado por Washington. Ele estendeu a mão à vítima do embargo ilegal americano imposto a Cuba, e vendeu petróleo aos cubanos. Esses foram seus crimes, assim como dizer que bombardear crianças no Afeganistão era terrorismo. Como o Chile sob Allende e a Nicarágua sob os sandinistas, muito pouco disso tudo foi explicado ao público ocidental. Como a revolta heróica do ano passado na Argentina, os eventos foram distorcidos e apresentados como meramente mais caos na América Latina. Na semana passada, o admirável Glasgow University Media Group, sob direção de Greg Philo, divulgou os resultados de um estudo que concluiu que, apesar da saturação na cobertura do Oriente Médio, a maioria dos telespectadores estavam desinformados de que a questão fundamental era a ocupação militar ilegal de Israel. "Mais você assiste, menos você fica sabendo" mencionando a citação de Danny Schechter sobre os telejornais americanos foi a conclusão do estudo. Tomemos como exemplo a "missão de paz" do secretário de estado dos EUA Colin Powell. Independentemente do veto persistente dos EUA às resoluções das Nações Unidas, as quais requerem a retirada de Israel dos territórios ocupados, e independentemente de Powell chamar Ariel Sharon de "meu amigo pessoal", a "missão de paz" americana foi a notícia absurda, repetida incessantemente. Similarmente, quando na semana passada a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas votou 40 contra 5 condenando Israel pelo seu "massacre", a notícia não foi essa expressão quase-unânime da opinião mundial, mas a rejeição da resolução pelo governo britânico como "desequilibrada". Os jornalistas ficam frequentemente na defensiva quando alguém pergunta porque eles seguem fielmente as decepções do grande poder. Não é suficiente que a ITN diga, com desprezo, em resposta às conclusões do Glasgow Media Group, que "o nosso negócio não é dar uma aula de história diariamente", ou para a BBC ostentar sua imparcialidade quando algumas edições recentes de Newsnight poderiam ter sido produzidas pelo ministério de Relações Exteriores. Nesses tempos perigosos, uma das armas mais destrutivas é a pseudo-informação. O livro mais recente de John Pilger', The New Rulers of the World, será publicado no próximo mês pela Verso >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Venezuela and Censorship The response of Britain's media to the conspiracy in Venezuela provided an object lesson in how censorship works in free societies. The episode was a journalistic disgrace by John Pilger New Statesman (London) 29 April 2002 May 01, 2002 Last month, I wrote about Venezuela, pointing out that little had been reported in this country about the achievements of Hugo Chavez and the threat to his reforming government from the usual alliance of a corrupt local elite and the United States. When the conspirators made their move on 12 April, the response of the British media provided an object lesson in how censorship works in free societies. The BBC described Chavez as "not so much a democrat as an autocrat", echoing the Foreign Office minister Denis MacShane, who abused him as "a ranting demagogue". Alex Bellos, the Guardian's South America correspondent, reported, as fact, that "pro-Chavez snipers had killed at least 13 people" and that Chavez had requested exile in Cuba. "Thousands of people celebrated overnight, waving flags, blowing whistles . . ." he wrote, leaving the reader with the clear impression that almost everybody in Venezuela was glad to see the back of this "playground bully", as the Independent called him. Within 48 hours, Chavez was back in office, put there by the mass of the people, who came out of the shanty towns in their tens of thousands. Defying the army, their heroism was in support of a leader whose democratic credentials are extraordinary in the Americas, south and north. Having won two presidential elections, the latest in 2000, by the largest majority in 40 years, as well as a referendum and local elections, Chavez was borne back to power by the impoverished majority whose "lot", wrote Bellos, he had "failed to improve" and among whom "his popularity had plummeted". The episode was a journalistic disgrace. Most of what Bellos and others wrote, using similar words and phrases, turned out to be wrong. In Bellos's case, this was not surprising, as he was reporting from the wrong country, Brazil. Chavez said he never requested asylum in Cuba; the snipers almost certainly included agents provocateurs; "almost every sector of society [Chavez] antagonised" were principally members of various oligarchies he made pay tax for the first time, including the media, and the oil companies, whose taxes he doubled in order to raise 80 per cent of the population to a decent standard of living. His opponents also included army officers trained at the notorious School of the Americas in the United States. In a few years, Chavez had begun major reforms in favour of the indigenous poor, Venezuela's unpeople. In 49 laws adopted by the Venezuelan Congress, he began real land reform, and guaranteed women's rights and free healthcare and education up to university level. He opposed the human rights abuses of the regime in neighbouring Colombia, encouraged and armed by Washington. He extended a hand to the victim of an illegal 40-year American blockade, Cuba, and sold the Cubans oil. These were his crimes, as well as saying that bombing children in Afghanistan was terrorism. Like Chile under Allende and Nicaragua under the Sandinistas, precious little of this was explained to the western public. Like the equally heroic uprising in Argentina last year, it was misrepresented as merely more Latin American chaos. Last week, the admirable Glasgow University Media Group, under Greg Philo, released the results of a study which found that, in spite of the saturation coverage of the Middle East, most television viewers were left uninformed that the basic issue was Israel's illegal military occupation. "The more you watch, the less you know" - to quote Danny Schechter's description of American television news - was the study's conclusion. Take US secretary of state Colin Powell's "peace mission". Regardless of America's persistent veto of United Nations resolutions calling for Israel to withdraw from the occupied territories, and regardless of Powell calling Ariel Sharon "my personal friend", an American "peace mission" was the absurd news, repeated incessantly. Similarly, when the United Nations Commission on Human Rights last week voted 40-5 to condemn Israel for its "mass killing", the news was not this near-unanimous expression of world opinion, but the British government's rejection of the resolution as "unbalanced". Journalists are often defensive when asked why they faithfully follow the deceptions of great power. It is not good enough for ITN to say dismissively, in response to the Glasgow Media Group findings, that "we are not in the business of giving a daily history lesson", or for the BBC to waffle about its impartiality when some recent editions of Newsnight might have been produced by the Foreign Office. In these dangerous times, one of the most destructive weapons of all is pseudo-information. John Pilger's latest book, The New Rulers of the World, is published next month by Verso
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