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Risco Brasil |
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Frei Betto Tradução
Imediata Fala-se em "risco Brasil" como se este país já não estivesse naufragando em alarmantes índices sociais. O risco é prosseguir no mesmo rumo, aprofundando ainda mais a desigualdade social e a exclusão da maioria da população. Não somos nós que devemos temer ser amanhã a Argentina de hoje. É a nação vizinha que teme ser amanhã o Brasil de hoje. Basta lembrar que a população argentina (cerca de 36 milhões) é inferior ao número de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. As duas nações já não suportam governantes indiferentes à esfera social. Lá, os correntistas não podem sacar os seus depósitos bancários. Aqui, o Banco Central reduz o rendimento das aplicações. Lá, se vai às ruas. Aqui, prepara-se para ir às urnas.
O Brasil é a 10ª economia do mundo. Somos, portanto, uma nação rica, que destoa das demais por suportar um altíssimo índice de pobreza. Da população brasileira, quantos vivem em situação de miséria? Para o Banco Mundial, 15 milhões; para o Ipea, 22 milhões; para o Instituto Cidadania, 44 milhões; e para a Fundação Getúlio Vargas, 50 milhões. Estatísticas à parte, basta abrir a janela para ver o triste panorama embaixo das pontes. Acima da linha da miséria, sobrevivem mais 30 milhões de pessoas com renda mensal inferior a R$ 80. Ao todo, são 53 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza. Essa contradição deve-se ao modelo econômico adotado pelo governo federal nos últimos oito anos, de acentuada concentração da renda. Do PIB hoje, cerca de R$ 1 trilhão -, 21% são destinados à área social. Nenhuma nação da América Latina, excetuando Cuba, gasta tanto no social R$6 de cada R$10 arrecadados.
Ocorre que os pobres ficam com a menor fatia desse dinheiro. Dos recursos embolsados pelos aposentados, quase a metade vai para os 10% mais ricos da população. Só 7% vão para os 20% mais pobres da população. Do orçamento da educação, as universidades públicas, que formam a elite brasileira, engolem cerca de 60%. E só 2% da verba social são destinados, por exemplo, ao saneamento básico, imprescindível para reduzir a mortalidade infantil e a disseminação de doenças infecciosas, como a febre amarela e o mal de Chagas. Como diz Oded Grajew, não adianta enxugar o chão se o teto está furado.
Um dos índices para medir a indigência é o da Organização Mundial da Saúde, que considera miserável quem não dispõe de recursos para consumir 2000 calorias por dia, indispensáveis para ser uma pessoa produtiva. Isso implica o consumo diário de um pãozinho e meio, margarina, cinco colheres de arroz, meia concha de feijão, um copo de leite, um bife de 100 gramas, meio ovo, três colheres de açúcar, óleo de soja, farinhas de trigo e mandioca.
É muito pouco. Melhor dizendo, é nada num país que tem comida sobrando. A safra de grãos deste ano deve passar de 99 milhões de toneladas! Como observa Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, há nações em que a miséria decorre da falta de alimentos, e outras em que falta é dinheiro no bolso da população, como é o nosso caso. Distribuição de renda e reforma agrária, dois desafios que nenhum governo enfrentou na história do Brasil.
Tudo é gritante quando se trata de fotografar a indigência do brasileiro. No entanto, algo mais preocupante se destaca no cenário: segundo a Fundação Getúlio Vargas, quase metade dos miseráveis (45%) são crianças e jovens que ainda não completaram 15 anos de idade. E 17% têm de 16 a 25 anos. Que futuro terão os que escaparem da morte precoce?
Como admitiu o próprio FHC, somos uma nação injusta. Dos miseráveis do mundo, cerca de 830 milhões de pessoas, 3% encontram-se em nosso país. Seria pouco se o nosso comércio exterior não representasse menos de 1% do movimento mundial de compra e venda. Só para se ter uma idéia: a Suíça representou, em 1990, 6%. De acordo com o Ipea, na Índia é de 5 vezes a distância entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres; nos EUA, 8 vezes; no México, 13 vezes; no Chile, 18 vezes; no Brasil, 33 vezes.
Está provado que quanto maior o nível de estudos dos pais, maior a escolaridade dos filhos. Investir na educação básica seria uma das formas de desarmar os mecanismos de concentração de renda no Brasil, onde 1% da população detém a mesma quantia de recursos que os 50% mais pobres!
Além da falta de efetiva reforma agrária, a de moradia afeta 12% da população (20,2 milhões de pessoas). O Brasil possui, de acordo com a Fundação João Pinheiro, 44,9 milhões de domicílios. Necessita de mais 6,6 milhões.
O risco Brasil será tanto maior quanto menos a nação se empenhar, neste ano, em riscar do mapa eleitoral aqueles políticos que não têm programas de redução da indigência e da exclusão social. A propósito, a CNBB está lançando um mutirão nacional contra a miséria e a fome. E, no caso do Brasil, nem precisa haver multiplicação dos pães. Basta reparti-los. Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Emir Sader, de "Contraversões civilização e barbárie na virada do século" (Boitempo), entre outros livros.
Riesgo Brasil Frei Betto 18 de junio del 2002 Servicio Informativo "alai-amlatina" Se habla de "riesgo Brasil" como si este país ya no estuviese naufragando en alarmantes índices sociales. El riesgo es proseguir en el mismo rumbo, profundizando aún más la desigualdad social y la exclusión de la mayoría de la población. No somos nosotros los que debemos temer ser mañana la Argentina de hoy. Es la nación vecina que teme ser mañana el Brasil de hoy. Basta recordar que la población argentina (cerca de 36 millones) es inferior al número de brasileños que viven bajo la línea de la pobreza. Las dos naciones ya no soportan gobernantes indiferentes a la esfera social. Allá, los cuenta ahorristas no pueden sacar sus depósitos bancarios. Aquí, el Banco Central redujo el rendimiento de los fondos. Allá, se sale a las calles. Aquí se prepara para ir a las urnas. Brasil es la décima economía del mundo. Somos, por lo tanto, una nación rica, que desentona de las demás por soportar un altísimo índice de pobreza. De la población brasileña, ¿cuántos viven en situación de miseria? Para el Banco Mundial, 15 millones; para el Instituto de Investigación de Economía Aplicada (Ipea), 22 millones; para el Instituto Ciudadanía, 44 millones; y para la Fundación Getúlio Vargas, 50 millones. Estadísticas aparte, basta abrir la ventana para ver el triste panorama bajo los puentes. Por encima de la línea de la miseria, sobreviven 30 millones de personas más con una renta mensual inferior a los 80 Reales. En total, son 53 millones de brasileños bajo la línea de la pobreza. Esa contradicción se debe al modelo económico adoptado por el gobierno federal en los últimos ocho años, de acentuada concentración de la renta. Del PIB -hoy, cerca de R$ 1 billón de reales-, el 21% es destinado al área social. Ninguna nación de América Latina, exceptuando Cuba, gasta tanto en lo social - R$6 de cada R$10 recaudados. Ocurre que los pobres se quedan con la menor parte de ese dinero. De los recursos pagados a los jubilados, casi la mitad va para el 10% de los más ricos de la población. Solo 7% va para el 20% más pobres de la población. Del presupuesto de la educación, las universidades públicas, que forman a la élite brasileña, engullen cerca del 60%. Y solo 2% del área social es destinado, por ejemplo, al saneamiento básico, imprescindible para reducir la mortalidad infantil y la diseminación de enfermedades infecciosas, como la fiebre amarilla y el mal de Chagas. Como dice Oded Grajew, de nada sirve secar el piso si el techo está agujereado. Uno de los índices para medir la indigencia es el de la Organización Mundial de la Salud, que considera miserable a quien no dispone de recursos para consumir 2000 calorías por día, indispensables para ser una persona productiva. Eso implica el consumo diario de un panecillo y medio, margarina, cinco cucharas de arroz, medio cucharón de frijol, un vaso de leche, un bife de 100 gramos, medio huevo, tres cucharas de azúcar, aceite de soya, harinas de trigo y yuca. Es muy poco. Mejor dicho, es nada en un país que tiene comida de sobra. ¡La cosecha de granos de este año debe pasar de 99 millones de toneladas! Como observa Amartya Sen, premio Nobel de Economía, hay naciones en que la miseria se da por la falta de alimentos, y otras en que lo que falta es dinero en los bolsillos de la población, como es nuestro caso. Distribución de la renta y reforma agraria, dos desafíos que ningún gobierno enfrentó en la historia de Brasil. Todo es indignante cuando se trata de fotografiar la indigencia del brasileño. Sin embargo, algo más preocupante se destaca en el escenario: según la Fundación Getulio Vargas, casi la mitad de los miserables (45%) son niños y jóvenes que aún no cumplen 15 años de edad. El 17% tiene de 16 a 25 años. ¿Qué futuro tendrán los que escapen de la muerte precoz? Como admitió el propio Fernando Henrique Cardoso, somos una nación injusta. De los miserables del mundo, cerca de 830 millones de personas, el 3% se encuentra en nuestro país. Sería poco si nuestro comercio exterior no representase menos del 1% del movimiento mundial de compra y venta. Solo para tener una idea: Suiza representó, en 1990, 6%. De acuerdo con el Ipea, en la India es de 5 veces la distancia entre el 20% más rico y el 20% más pobre; en los Estados Unidos, 8 veces; en México, 13 veces; en Chile, 18 veces; en Brasil, 33 veces. Está probado que cuanto mayor el nivel de estudios de los padres, mayor la escolaridad de los hijos. Invertir en la educación básica sería una de las formas de desarmar los mecanismos de concentración de la renta en Brasil, ¡donde el 1% de la población detenta la misma cantidad de recursos que el 50% más pobre! Además de la falta de reforma agraria efectiva, la de vivienda afecta al 12% de la población (20,2 millones de personas). Brasil posee, de acuerdo con la Fundación João Pinheiro, 44,9 millones de domicilios. Necesita 6,6 millones más. El riesgo Brasil será tanto mayor cuanto menos la nación se empeñe, este año, en sacar del mapa electoral a aquellos políticos que no tienen programas de reducción de la indigencia y de la exclusión social. A propósito, la Conferencia Nacional de los Obispos de Brasil (CNBB, por sus siglas en portugués) está lanzando un mutirão (acción colectiva comunitaria) nacional contra la miseria y el hambre. Y, en el caso de Brasil, ni se precisa que haya la multiplicación de los panes. Basta repartirlos. * Frei Betto es escritor, autor, conjuntamente con Emir Sader, de "Contraversões - civilização y barbárie na virada do século" (Boitempo), entre otros libros.
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