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Democracia Imperial mistura instantânea (compre uma, leve duas) |
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Arundhati Roy Apresentado pela autora em Nova York, na The Riverside Church no dia 13 de maio de 2003 Evento patrocinado pelo Center for Economic and Social Rights Publicado no dia 18 de maio de 2003 no site CommonDreams.org 18 de maio de 2003 Tradução Imediata |
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Nesta época, quando temos que correr ligeiro para mantermos o passo com a velocidade com que nossas liberdades estão sendo arrancadas de nós, e quando poucos podem se dar ao luxo de se ausentarem das ruas por algum tempo, para poderem retornar com uma primorosa e totalmente formada tese política, repleta de notas de rodapé e referências, que contribuição significativa posso oferecer-lhes nesta noite? Enquanto somos emboscados de uma crise a outra, transmitidas diretamente a nossos cérebros pela TV via satélite, precisamos pensar com os pés no chão. Mesmo enquanto estamos a caminho. Entramos nas histórias através dos destroços de guerra. Cidades arruinadas, campos ressecados, florestas encolhidas e rios agonizantes são nossos arquivos. Crateras deixadas pela bombas de fragmentação, nossas bibliotecas. Então, o que posso oferecer esta noite? Alguns pensamentos pouco confortadores sobre dinheiro, guerra, império, racismo e democracia. Algumas preocupações que esvoaçam em torno da minha cabeça, como uma família de mariposas persistentes que me deixam acordada de noite. Alguns de vocês acharão de mau gosto, para uma pessoa como eu, que ingressou oficialmente no Grande Livro da Nações Modernas, como "cidadã da Índia", vir aqui para criticar o governo dos EUA. Falando por mim mesma, não carrego qualquer bandeira, nenhum patriotismo, e estou plenamente consciente de que a venalidade, a brutalidade e a hipocrisia estão impressas nas almas de chumbo de cada estado. Mas quando um país cessa de ser meramente um país e se torna um império, então a escala de operações muda drasticamente. Portanto, gostaria de explicar que esta noite falo como sujeito do Império Americano. Falo como o escravo que presume criticar seu rei. Como as conferências precisam ter um título, a minha, nesta noite, chama-se: Democracia Imperial Mistura Instantânea (Compre Uma, Leve Duas) [Instant-Mix Imperial Democracy (Buy One, Get One Free)]. Em 1988, no dia 3 de julho, o U.S.S. Vincennes, porta-mísseis estacionado no Golfo Pérsico, atirou acidentalmente contra um avião iraniano, matando 290 passageiros civis. George Bush o Primeiro, que na época estava em plena campanha presidencial, foi solicitado a comentar sobre o incidente. Ele disse, sutilmente: "Eu nunca vou pedir desculpas pelos Estados Unidos. Seja quais forem os fatos." Seja quais forem os fatos. Que máxima perfeita para o Novo Império Americano. Talvez uma pequena variação no tema seja mais pertinente: Os fatos podem ser aqueles que nós queiramos que sejam. Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, uma sondagem do New York Times/CBS News estimou que 42 por cento do público americano acreditava que Saddam Hussein era diretamente responsável pelos ataques do 11 de setembro no World Trade Center e no Pentágono. E uma pesquisa da ABC News revelou que 55 por cento dos americanos acreditavam que Saddam Hussein patrocinava diretamente o grupo Al Qaida. Nenhuma dessas opiniões se baseia em qualquer evidência (porque não há nenhuma). Tudo isso se baseia em insinuações, em auto-sugestão e em puras e simples mentiras circuladas nos EUA pela mídia corporativa, conhecida também como "Imprensa Livre", aquele pilar oco sobre o qual repousa a democracia estadunidense. O apoio público à guerra dos EUA contra o Iraque foi baseado num edifício de múltiplos andares de falsidade e engano, coordenados pelo governo dos EUA e fielmente amplificado pela mídia corporativa. Além da relação inventada entre o Iraque e a Al Qaida, tivemos o frenesi manufaturado sobre as Armas de Destruição em Massa do Iraque. George Bush o Menor chegou ao ponto de dizer que seria "suicídio" para os EUA não atacar o Iraque. Mais uma vez, testemunhamos a paranóia de que um país esfomeado, bombardeado e assediado estava prestes a aniquilar a toda-poderosa América. (O Iraque foi somente o último, numa sucessão de países precedido por Cuba, Nicarágua, Líbia, Granada e Panamá.) Mas dessa vez não foi só a marca mais comum do bom e velho frenesi. Tratou-se de Delírio com um Propósito. Anunciando uma velha doutrina numa nova garrafa: a Doutrina dos Ataques Preventivos, ou seja, Os Estados Unidos Podem Fazer o Diabo que Quiserem, E Isso É Oficial. A guerra contra o Iraque foi combatida e vencida e nenhuma Arma de Destruição em Massa foi encontrada. Nem mesmo umazinha só. Talvez elas precisem serem plantadas antes de serem descobertas. E então, o mais chato entre nós precisará de uma explicação sobre porque Saddam Hussein não as usou, quando o seu país estava sendo invadido. É claro, não haverá qualquer resposta. Aos Verdadeiros Crentes serão suficientes aqueles informes distorcidos da TV sobre a descoberta de uns poucos barris de produtos químicos banidos, dentro de um velho barracão. E o parece ainda não haver qualquer consenso sobre o fato deles terem sido mesmo banidos e o se os recipientes que os continham podem ser efetivamente chamados barris. (Houve rumores ainda não confirmados de que uma colher de chá com permanganato de potássio e uma velha harmônica também foram encontrados dentro do mesmo barraco ) Enquanto isso, de passagem, uma antiga civilização foi casualmente dizimada por uma nação muito recente e casualmente brutal. Então, há aqueles que dizem, e daí que não havia armas químicas ou nucleares no Iraque? E daí que não havia qualquer conexão com a Al Qaida? E daí que Osama bin Laden odeia o Saddam Hussein da mesma forma que odeia os Estados Unidos? Bush o Menor disse que Saddam Hussein era um "Ditador Homicida". E então, o raciocínio é de que o Iraque precisava de uma "mudança de regime". E daí que há quarenta anos, a CIA, sob o Presidente John F. Kennedy, orquestrou uma mudança de regime em Bagdá? Em 1963, depois de um golpe bem sucedido, o partido Ba'ath tomou o poder no Iraque. Usando listas fornecidas pela CIA, o novo regime Ba'ath eliminou sistematicamente centenas de médicos, professores, advogados e figuras políticas conhecidas como esquerdistas. Toda uma comunidade intelectual foi assassinada. (A mesma técnica foi usada para massacrar centenas de milhares de pessoas na Indonésia e em Timor Leste.) Diz-se que o jovem Saddam Hussein tinha supervisionado a matança. Em 1979, depois de uma disputa interna entre facções do Partido Ba'ath, Saddam Hussein tornou-se Presidente do Iraque. Em abril de 1980, enquanto massacrava os xiitas, o Conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA, Zbigniew Brzezinksi declarava: "Não vemos incompatibilidade de interesses entre os Estados Unidos e o Iraque." Washington e Londres apoiavam Saddam Hussein tanto aberta quanto secretamente. Foram eles que o financiaram, equiparam, armaram e forneceram os materiais de duplo uso para manufaturar armas de destruição em massa. Eles apoiaram seus piores excessos financeira, material e moralmente. Eles apoiaram os oito anos de guerra contra o Irã e, em 1988, o ataque com gás tóxico contra o povo curdo em Halabja, crimes que, 14 anos depois, foram novamente requentados e servidos como motivos para justificar a invasão ao Iraque. Depois da Primeira Guerra do Golfo, os "Aliados" fomentaram uma revolta dos xiitas em Basra, depois, olharam para o outro lado, enquanto Saddam Hussein esmagava a revolta, assassinando milhares de pessoas, num ato de represália vingativa. O fato é que, se Saddam Hussein era mau o suficiente para merecer a declaração de tentativa de assassinato mais aberta e elaborada da história (a moção de abertura da Operation Shock and Awe [Operação Choque e Pavor], então, naturalmente, aqueles que o apoiaram deveriam ser processados por crimes de guerra. Porque os rostos dos funcionários dos governos dos EUA e do Reino Unido não fazem parte do baralho infame de homens e mulheres procurados? Porque, quando se trata do Império, os fatos não têm qualquer importância. Sim, mas tudo isso faz parte do passado que nos contam. Saddam Hussein é um monstro que precisa ser parado, agora. E só os EUA podem pará-lo. É uma técnica eficaz, esse uso de uma urgente moralidade no presente para encobrir os pecados diabólicos do passado e os planos malévolos para o futuro. Indonésia, Panamá, Nicarágua, Iraque, Afeganistão e a lista continua. Agora mesmo, há regimes brutais sendo preparados para o futuro Egito, Arábia Saudita, Turquia, Paquistão, as Repúblicas da Ásia Central. Recentemente, John Ashcroft, Procurador Geral dos EUA, declarou que as liberdades dos EUA "não são concessões de qualquer governo ou documento, mas uma doação de Deus." (Então para que nos incomodarmos com as Nações Unidas se o próprio Deus está tão ao alcance?) Então, aí estamos nós, os povos do mundo, confrontados com um Império armado com um mandato dos céu (e, como garantia suplementar, o mais incrível arsenal de armas de destruição em massa da história). Aqui estamos, confrontados com um Império que se conferiu o direito de ir para a guerra a seu próprio querer, e o direito de liberar pessoas de ideologias corruptas, de fundamentalistas religiosos, de ditadores, do sexismo e da pobreza, através de antigas e bem experimentadas práticas de extermínio. O Império está a caminho e a Democracia é seu novo astuto grito de guerra. Democracia entregue a domicílio, no degrau da porta de sua casa, por bombas de fragmentação. A morte é um pequeno preço a ser pago pelo povo, pelo privilégio de tomar uma amostra desse novo produto: Democracia Imperial Mistura Instantânea (faça ferver, acrescente óleo, depois já está pronto: é só bombardear). É que, talvez, os "chinks", "negroes", "dinks", "gooks" e "wogs" (chineses, negros, hindus, árabes, vietnamitas) realmente não se qualifiquem como verdadeiros seres humanos. Talvez nossas mortes não se qualifiquem como mortes verdadeiras. Nossas histórias não se qualificam como história. Nunca se qualificaram. Falando de história, nos últimos meses, enquanto o mundo todo assistia, a invasão e a ocupação do Iraque pelos EUA eram transmitidas ao vivo pela TV. Como Osama bin Laden e os talibãs no Afeganistão, o regime de Saddam Hussein simplesmente desapareceu. E isso se seguiu por aquilo que os analistas chamam de "vácuo de poder". Cidades que foram assediadas, sem alimentos, água e eletricidade por dias e dias, cidades que tinham sido implacavelmente bombardeadas, pessoas que foram levadas sistematicamente à fome e à miséria pelas sanções do regime da ONU por mais de uma década, foram deixadas ao léu, sem a menor sombra de uma administração urbana. Uma civilização de sete mil anos deslizando na anarquia. Tudo isso ao vivo pela TV. Vândalos pilharam lojas, escritórios, hotéis e hospitais. Soldados americanos e ingleses parados, olhando. Disseram que não tinham recebido ordem para agir. De fato, tinham recebido ordens para matar as pessoas, não para protegê-las. Suas prioridades eram evidentes. A segurança do povo iraquiano não lhes dizia respeito. A segurança do pouco que tinha sobrado da infra-estrutura do Iraque não lhes dizia respeito. Mas a segurança dos campos de petróleo sim. É claro que sim. Os campos de petróleo estavam "seguros" quase antes do início da própria invasão. Na CNN e na BBC, as cenas de pilhagem foram transmitidas e retransmitidas. Os comentadores da TV e os porta-vozes do exército e do governo descreveram as cenas como "o povo libertado" manifestando sua raiva contra o regime despótico. Donald Rumsfeld, Secretário da Defesa dos EUA disse: "É bagunçado. A liberdade é bagunçada e as pessoas livres são livres para cometerem crimes e cometerem erros e fazerem coisas ruins." Alguém sabia que Donald Rumsfeld era um anarquista? Fico pensando será que ele teve o mesmo ponto de vista durante os tumultos de Los Angeles que seguiram o espancamento de Rodney King? Será que ele gostaria de compartilhar seu ponto de vista com os dois milhões de pessoas que estão atualmente detidas nos presídios americanos? (O país mais "livre" do mundo tem o maior número de prisioneiros do mundo.) Será que ele discutiria seus méritos com os jovens afro-americanos, 28 por cento dos quais passarão uma parte de suas vidas adultas dentro de uma penitenciária? Será que ele poderia explicar porque está servindo um presidente que, quando governador do Texas, endossou a execução de 152 pessoas? Antes do começo da guerra contra o Iraque, o órgão para a Reconstrução e a Ajuda Humanitária [Office of Reconstruction and Humanitarian Assistance (ORHA)] enviou ao Pentágono uma lista de 16 locais fundamentais que deveriam ser protegidos. O Museu Nacional era o segundo da lista. Ainda assim, o Museu não foi somente saqueado, foi profanado. Era o repositório de um antiquíssimo legado cultural. O Iraque, como o conhecemos hoje, era parte do vale fluvial conhecido como Mesopotâmia. A civilização que cresceu entre as margens do Tigre e do Eufrates produziu a primeira linguagem escrita do mundo, o primeiro calendário, a primeira biblioteca, a primeira cidade e, sim, a primeira democracia do mundo. O rei Hamurabi da Babilônia foi o primeiro a codificar as leis que governavam a vida social dos cidadãos. Era um código que reconhecia os direitos até mesmo das mulheres abandonadas, das prostitutas, dos escravos, até mesmo os animais tinham seus direitos reconhecidos. O código de Hamurabi é reconhecido não só como o nascimento da legalidade, como também o começo de uma nova maneira de se compreender o conceito de justiça social. O governo dos EUA não poderia ter escolhido uma terra mais imprópria para encenar sua guerra ilegal e demonstrar seu grotesco desprezo pela justiça. Num briefing do Pentágono, durante os dias da pilhagem, o Secretário Rumsfeld, Príncipe das Trevas, excitava seus seguidores da mídia, que tão fielmente o tinham servido durante a guerra: "As imagens que vocês estão vendo na televisão, vocês as estão vendo repetidamente, e é a mesma imagem, de alguém que sai carregando um vaso; e vocês vêem isso vinte vezes por dia e se perguntam Meu Deus, será que havia tantos vasos assim, em todo o país?" Na sala de imprensa, ecoavam risadas e mais risadas. Será que o resultado teria sido o mesmo, assim, tudo bem, se os pobres do Harlem saqueassem o Metropolitan Museum? Será que o fato teria sido recebido com o mesmo regozijo? O último edifício da lista de 16 sítios a serem protegidos, segundo a ORHA, era o Ministério do Petróleo. Foi o único que contou com proteção. Talvez o exército ocupante pensava que nos países muçulmanos as listas devem ser lidas de baixo para cima? A televisão nos diz que o Iraque foi "liberado" e que o Afeganistão está a caminho de se tornar um paraíso para as mulheres, graças a Bush e Blair, os maiores líderes feministas do século XXI. Na realidade, a infra-estrutura do Iraque foi destruída. Seu povo levado à beira da inanição. Seu estoque de comida esgotado. E suas cidades devastadas por um total colapso administrativo. O Iraque está sendo levado em direção a uma guerra civil entre os xiitas e os sunitas. Enquanto isso, o Afeganistão resvalou novamente para a era de anarquia pré-talibã, e seu território despedaçado entre feudos pelos hostis lordes da guerra. Sem perder seu fôlego com isso tudo, no dia 2 de maio, Bush o Menor lançou sua campanha para 2004, esperando, quem sabe, ser finalmente eleito como Presidente dos Estados Unidos. Naquilo que foi, provavelmente, o vôo mais curto de toda a história da aviação, um jato militar aterrissou no porta-aviões U.S.S. Abraham Lincoln, o qual estava tão perto da costa que, segundo a Associated Press, funcionários da administração reconheceram "terem posicionado a imensa embarcação para fornecer ao discurso de Bush o melhor ângulo para as câmaras de televisão, tendo como fundo o mar, em vez da costa de San Diego". O Presidente Bush, que nunca participou do serviço militar, emergiu da cabina de comando vestido com roupas ornamentais uma jaqueta dos militares dos EUA tipo bombardeio, botas de combate, óculos de proteção de vôo, capacete. Saudando suas entusiasmadas tropas, ele proclamou oficialmente a vitória contra o Iraque. Mas ele foi cuidadoso ao dizer que se tratava de "somente uma vitória na guerra contra o terror [a qual] ainda continua." Era importante evitar de fazer uma declaração direta de vitória, porque, conforme a Convenção de Genebra, um exército vitorioso tem as obrigações legais de uma força de ocupação, responsabilidade que a administração Bush não quer ter. Além disso, com a chegada das eleições de 2004, para excitar mais uma vez os votantes, talvez se faça necessária mais uma vitória na "Guerra contra o Terror". A Síria está passando pela fase de engorda antes do abate. Foi Herman Goering, aquele velho nazista, que disse: "O povo sempre pode ser convencido pelos líderes Tudo o que se precisa fazer é dizer-lhes que estão sendo atacados e denunciar os pacifistas pela falta de patriotismo, e expor o país ao perigo. Funciona do mesmo jeito em qualquer país." Ele está certo. É assim mesmo, fácil. E é no que aposta o regime Bush. A distinção entre campanhas eleitorais e guerra, entre democracia e oligarquia, parece estar ficando cada vez mais tênue. A única advertência nessas guerras de campanhas é que vidas dos EUA não podem ser perdidas. Pois estremecem a confiança dos eleitores. Mas o problema dos soldados americanos serem mortos em combate tem sido reduzido. Mais ou menos. Num briefing para a mídia, antes do lançamento da Operação Shock and Awe, o General Tommy Franks anunciou: "Esta campanha será diferente de qualquer outra na história". Talvez ele estivesse certo. Eu não sou nenhuma historiadora militar, mas quando é que uma guerra foi combatida assim? Depois de usar a "boa vontade" da diplomacia da ONU (sanções econômicas e inspeções de armas) para garantir que o Iraque estivesse mesmo de joelhos, seu povo esfomeado, meio milhão de crianças mortas, sua infra-estrutura severamente danificada, depois de certificar-se de que a maioria de suas armas de destruição em massa tivesse sido destruída, num ato de covardia que não deve ter paralelos em toda a história, a "Coalizão dos Voluntariosos" (melhor conhecida como a Coalizão dos Abusados e Corrompidos) enviou um exército invasor! Operação Liberdade para o Iraque? Não acho, mesmo. Acho que foi mais para Operação Vamos Apostar uma Corrida, Mas Antes Vou Lhe Quebrar os Joelhos. Assim que a guerra começou, os governos da França, Alemanha e Rússia, os quais se recusaram a permitir que uma resolução final legitimando a guerra fosse aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, apressaram-se contudo, em dizer o quanto queriam a vitória dos Estados Unidos. O Presidente Jacques Chirac ofereceu o espaço aéreo francês à força aérea anglo-americana. As bases militares estadunidenses na Alemanha continuaram abertas para negócios. O Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, publicamente manifestou os votos de um rápido colapso" para o regime de Saddam Hussein. Vladimir Putin publicamente manifestou o mesmo desejo. Esses governos que colidiram quanto ao desarmamento compulsório do Iraque antes de, covardemente, correrem para ficarem do lado daqueles que o atacaram. Além da esperança de participarem da partilha dos espólios de guerra, esperavam que o Império honrasse os contratos de petróleo assinados com o Iraque antes da guerra. Só mesmo os muito ingênuos poderiam esperar que velhos imperialistas pudessem se comportar de outra forma. Deixando de lado as emoções baratas e os presunçosos discursos morais feitos na ONU durante a fase de corrida para a guerra, eventualmente, no momento da crise, a unidade dos governos ocidentais apesar da oposição da maioria de seus respectivos povos foi esmagadora. Quando o governo turco se curvou, temporariamente, aos pontos de vista de 90 por cento de sua população, e rejeitou a oferta do governo dos EUA de bilhões de dólares em dinheiro manchado de sangue em troca do uso do solo turco, foi acusado de faltar com os "princípios democráticos". Segundo sondagem da Gallup International, em nenhum país europeu o apoio à guerra empreendida "unilateralmente pelos EUA e seus aliados" foi superior a 11 por cento. Mas os governos da Inglaterra, Itália, Espanha, Hungria e outros países da Europa Oriental foram elogiados por desdenharem as opiniões da maioria de seus povos, apoiando a invasão ilegal. Isso, presumivelmente, foi cumprir com os princípios democráticos. Como será que isso se chama? Nova Democracia? (Como em Novo Partido Trabalhista da Grã-Bretanha?) Em duro contraste com a venalidade demonstrada pelo seus governos, no dia 15 de fevereiro, semanas antes da invasão, na mais espetacular demonstração de moralidade pública jamais vista no planeta, mais de 10 milhões de pessoas marcharam contra a guerra nos 5 continentes. Muitos de vocês, estou certa, estavam entre elas. As pessoas nós fomos ignoradas com ulterior desdém. Ao ser indagado sobre sua reação às demonstrações anti-guerra, o Presidente Bush disse: "É como decidir, bem, como se fosse decidir com base em um grupo focalizado. O papel de um líder é decidir a política com base na segurança, nesse caso, na segurança do seu povo." A democracia, vaca sagrada do mundo moderno, está em crise. E a crise é profunda. Todo tipo de ultraje está sendo cometido em nome da democracia. E esta se tornou pouco mais do que uma palavra oca, uma bela concha esvaziada de todo o seu conteúdo ou significado. Ela pode ser o que se queira que ela seja. A Democracia é a puta do Mundo Livre, disposta a se vestir, a se despir, pronta a satisfazer uma ampla gama de gostos, disponível para ser usada e abusada à vontade. Até bem recentemente, até os anos 80, parecia que a democracia até poderia contribuir para trazer um certo nível de justiça social real. Mas as democracias modernas têm existido há um tempo suficiente para que os neo-liberais pudessem aprender os modos de subvertê-la. Eles se aperfeiçoaram na técnica de infiltrar os instrumentos da democracia o judiciário "independente", a imprensa "livre", o parlamento e moldá-los em função dos seus propósitos. O projeto da globalização corporativa fez rachar o código. Eleições livres, imprensa livre e um judiciário independente significam muito pouco quando o mercado livre reduziu tudo a uma mercadoria pronta para venda, disponível a quem der o maior lance. Para entender a extensão do quanto a Democracia se encontra em estado de assédio, poderia ser uma boa idéia espiar o que está acontecendo com algumas de nossas democracias contemporâneas. A maior do mundo: a índia, (sobre a qual tenho escrito com certa profundidade e, por causa disso, não vou me delongar nesta noite). A mais interessante do mundo: a África do Sul. A mais poderosa: a dos EUA. E, mais instrutiva de todas e, conforme o plano que está sendo feito para apressar o seu estabelecimento, a mais nova de todas elas: a do Iraque. Na África do Sul, depois de 300 anos de brutal dominação da maioria negra pela minoria branca, por meio do colonialismo e do apartheid, uma democracia não racial e multi-partidária chegou ao poder em 1994. Foi uma realização fenomenal. Mas depois de dois anos no poder, o Congresso Nacional Africano ajoelhou-se perante o Deus Mercado. Seu programa maciço de ajuste estrutural, privatização e liberalização só fez aumentar as repugnantes disparidades entre os ricos e os pobres. Mais de um milhão de pessoas perderam seus empregos. A privatização corporativa dos serviços básicos eletricidade, água e moradia significou que 10 milhões de sul-africanos, cerca de um quarto da população do país, fosse desligada do abastecimento de água e eletricidade. 2 milhões foram despejados de suas casas. Enquanto isso, uma minoria de raça branca, que tem sido historicamente privilegiada por séculos de exploração brutal, está mais segura do que nunca. Eles continuam a controlar as terras, as fazendas, as fábricas e os abundantes recursos naturais daquele país. Para eles, a transição do apartheid ao neo-liberalismo não chegou a afetar nem mesmo o gramado de suas casas. Trata-se de apartheid com consciência limpa. E atende pelo nome de Democracia. A Democracia tornou-se o eufemismo do Império para o capitalismo neo-liberal. Nos países do primeiro mundo, também, a maquinaria da democracia tem sido eficazmente subvertida. Políticos, barões da mídia, juízes, lobbies corporativos poderosos e funcionários de governo estão envolvidos em uma elaborada configuração da mão invisível que destrói completamente os arranjos laterais e o sistema de equilíbrio entre a constituição, os tribunais, o parlamento, a administração e, talvez, sobretudo, a mídia independente, que formam a base estrutural de uma democracia parlamentar. Cada vez mais, esse envolvimento não é nem sutil nem elaborado. Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália, por exemplo, detém o controle da maioria dos jornais, revistas, canais de televisão e editoras do país. O Financial Times reportou que ele controla cerca de 90 por cento da audiência italiana. Recentemente, durante um julgamento sobre propinas, enquanto insistia ser ele mesmo a única pessoa que poderia salvar a Itália da esquerda, disse: "Por quanto tempo será que ainda vou ter que viver essa vida de sacrifícios?" Esse não é um bom presságio para os restantes 10 por cento da audiência italiana. Qual é o preço da Liberdade de Expressão? E essa Liberdade de Expressão é para quem? Nos Estados Unidos, o arranjo é mais complexo. A Clear Channel Worldwide Incorporated é a maior proprietária de estações de rádio do país. Gerencia mais de 1.200 canais que, em conjunto, constituem 9 por cento do mercado. Seu Presidente contribuiu com centenas de milhares de dólares para a campanha eleitoral de Bush. Quando centenas de milhares de cidadãos estadunidenses foram às ruas para protestar contra a guerra ao Iraque, a Clear Channel organizou os "Rallies for America", ou seja, marchas patrióticas em todo o país. Usou suas estações de rádio para propagandear os eventos e depois enviou correspondentes para cobri-los, como se fossem notícias urgentes. A era da manufatura do consenso deu lugar para a era da manufatura das notícias. Em breve, as salas das agências noticiosas abandonarão suas pretensões e começarão a contratar diretores de teatro ao invés de jornalistas. Enquanto o show business dos EUA se torna cada vez mais violento e parecido com a guerra, e as guerras dos EUA se tornam cada vez mais parecidas com o show business, estão ocorrendo interessantes cruzamentos. O designer que construiu o palco de 250.000 dólares no Qatar, e de onde o General Tommy Franks orquestrou a cobertura da mídia da Operação Shock and Awe, também construiu o cenário para a Disney, a MGM, e o programa "Good Morning America". É uma cruel ironia que os EUA, que têm os mais ardentes e loquazes defensores da idéia da Liberdade de Expressão e (até recentemente) a mais elaborada legislação para protegê-la, tenham circunscrito o espaço dentro do qual tal liberdade possa ser expressa. De uma maneira estranha e convoluta, o som e a fúria que acompanham a defesa legal e conceitual da Liberdade de Expressão nos EUA servem para mascarar o processo de rápida erosão das possibilidades de se exercer de fato tal liberdade. As notícias e a indústria do entretenimento nos EUA são, na maior parte, controladas por poucas grandes corporações - AOL-Time Warner, Disney, Viacom, News Corporation. Cada uma dessas corporações possui e controla estações de TV, estúdios cinematográficos, gravadoras e editoras. Efetivamente, as saídas estão lacradas. O império da mídia dos EUA é controlado por uma pequeníssima panelinha de indivíduos. Michael Powell, Presidente da Federal Communications Commission (Comissão para as Comunicações Federais) e filho do Secretário de Estado Colin Powell, propôs ulteriores desregulamentações para o setor das comunicações, as quais, por sua vez, levarão a ainda maiores consolidações. Portanto, eis aqui a Maior Democracia do Mundo, conduzida por um homem que não foi eleito legalmente. O Supremo Tribunal dos EUA deu-lhe o posto de presente. Que preço o povo estadunidense tem pago por essa presidência espúria? Nos três anos de presidência de George Bush o Menor, a economia dos EUA perdeu mais de dois milhões de empregos. Despesas militares exorbitantes, assistência social corporativa e devoluções de impostos para os ricos criaram uma crise financeira para o sistema educacional estadunidense. Segundo uma sondagem do National Council of State Legislatures, os estados dos EUA cortaram 49 bilhões de dólares em serviços públicos, saúde, assistência social e educação, em 2002. E eles planejam cortar mais 25,7 bilhões de dólares ainda este ano. Isso perfaz um total de 75 bilhões de dólares. A requisição para o orçamento inicial de Bush para financiar a guerra no Iraque foi de 80 bilhões de dólares. Portanto, quem está pagando pela guerra? Os pobres da América. Seus estudantes, seus desempregados, suas mães solteiras, seus hospitais e seus pacientes que necessitam de cuidados domiciliares, seus professores e seus funcionários do setor da saúde. E quem foi enviado para a guerra? Mais uma vez, os pobres da América. Os soldados que estão assando sob o sol do deserto iraquiano não são os filhos dos ricos. Somente um dos membros da House of Representatives e do Senado tem um filho em combate no Iraque. O exército de "voluntários" dos EUA depende, na realidade, do alistamento dos brancos pobres, pretos, latinos e asiáticos que buscam uma maneira de poder ganhar a vida e obter uma educação. Estatísticas federais mostram que os afro-americanos compõem 21 porcento do total das forças armadas e 29 por cento do exército dos EUA. Eles compõem somente 12 por cento da população como um todo. É irônico, não é mesmo a desproporcionalmente alta representação de afro-americanos no exército e nos presídios. Talvez deveríamos ser mais positivos e encarar isso como uma das formas mais eficazes de ação afirmativa. Quase 4 milhões de estadunidenses (2 por cento da população) perdeu seu direito de voto, devido a condenações por crimes. Daquele número, 1,4 milhões são afro-americanos, o que significa que 13 por cento de todas as pessoas negras com idade para votar foram privadas do seu direito de voto. Para os afro-americanos, a ação afirmativa existe também na hora da morte. Um estudo feto pela economista Amartya Sen mostra que os afro-americanos em conjunto apresentam uma expectativa de vida inferior, quando comparados com os cidadãos nascidos na China, no estado indiano de Kerala (de onde sou originária), de Sri Lanka, ou da Costa Rica. Os homens de Bangladesh têm melhores chances de sobreviver até os 40 anos do que os homens afro-americanos daqui do Harlem. Neste ano, naquele que teria sido o 74º aniversário do Dr. Martin Luther King, Jr., o Presidente Bush denunciou o programa de ação afirmativa da Universidade do Michigan, que favorecia os estudantes negros e latinos. Ele acusou o programa de "causador de discórdia", "injusto" e "inconstitucional". O esforço bem sucedido de impedir que os negros votassem no estado da Flórida, para que George Bush fosse eleito, não foi, naturalmente, nem injusto nem inconstitucional. Não creio que ação afirmativa para Rapazes Brancos de Yale jamais o seja. Portanto, sabemos quem está pagando pela guerra. E sabemos quem está combatendo na mesma. Mas quem vai se beneficiar com ela? Quem está lucrando com os contratos de reconstrução, estimados em cerca de cem bilhões de dólares? Será que vão ser os pobres e desempregados e doentes dos EUA? Ou talvez as mães solteiras? Ou as minorias negra e latina? A Operação Liberdade ao Iraque, George Bush nos garante, é para devolver o petróleo iraquiano ao povo iraquiano. Ou seja, devolver o petróleo iraquiano ao povo iraquiano através das Corporações Multinacionais. Como a Bechtel, como a Chevron, como a Halliburton. Mais uma vez, é um círculo muito pequeno e fechado que coliga a liderança corporativa, militar e governamental. A promiscuidade e a polinização cruzada é escandalosa. Considere isso: o Defense Policy Board (Comissão para a Política da Defesa) é um grupo apontado pelo governo que assessora o Pentágono. Seus membros são apontados pelo sub-secretário da Defesa e aprovados por Donald Rumsfeld. Suas reuniões são sigilosas. Nenhuma informação é disponível para escrutínio público. O Center for Public Integrity (Centro para a Integridade Pública), sediado em Washington, averiguou que 9 dentre os 30 membros da Comissão para a Política da Defesa estão associados a empresas que obtiveram contratos para a defesa avaliados em 76 bilhões de dólares entre os anos de 2001 e 2002. Um deles, Jack Sheehan, general da marinha aposentado, é vice-presidente sênior da Bechtel, a gigantesca empresa internacional de engenharia. Riley Bechtel, presidente da empresa, faz parte do Conselho de Exportação do Presidente. O ex-secretário de estado George Shultz, que também faz parte do Conselho de Diretores do Bechtel Group, é o presidente da diretoria de assessores da Comissão para a Liberação do Iraque. Ao ser perguntado pelo New York Times se estava preocupado quanto à aparência de haver um conflito de interesses, ele disse: "Eu não sei se a Bechtel se beneficiaria particularmente com isso. Mas se houver trabalho a ser feito, a Bechtel é o tipo de companhia que poderia fazê-lo." A Bechtel foi recompensada com um contrato de reconstrução no Iraque de 680 milhões de dólares. Segundo o Center for Responsive Politics (Centro para Políticas Responsivas), a Bechtel contribuiu com centenas de milhares de dólares para os esforços da campanha dos republicanos. Lançando mão desse subterfúgio, reduzindo-o ao mínimo pela absoluta magnitude de sua malevolência, está a legislação anti-terrorista dos EUA. O U.S.A. Patriot Act (Ato Patriótico dos EUA), foi aprovado em outubro de 2001 e se tornou o modelo para projetos de lei similares em todo o mundo. Passou pela House of Representatives por voto majoritário de 337 contra 79. Segundo o New York Times: "Muitos legisladores disseram que tinha sido impossível debater verdadeiramente ou mesmo ler a legislação." O Patriot Act desemboca numa era de controle automatizado sistemático. Dá ao governo a autoridade de grampear telefones e computadores e espionar as pessoas de maneiras que teriam parecido completamente inaceitáveis alguns anos atrás. Dá ao FBI o poder de obter os registros de toda a circulação, compra e outras informações sobre os usuários de bibliotecas e clientes de livrarias suspeitos de fazerem parte de redes terroristas. Ele embaça as fronteiras entre expressão e atividade criminosa, criando espaço para considerar atos de desobediência civil como violações da lei. Agora mesmo, centenas de pessoas estão detidas indefinidamente como "combatentes fora da lei". (Na Índia, o número está nos milhares. Em Israel, 5.000 palestinos estão detidos.) Os que não são cidadãos, é claro, não têm direito nenhum. Eles podem simplesmente "desaparecer" como as pessoas no Chile, sob o velho aliado de Washington, o General Pinochet. Mais de 1.000 pessoas, muitas das quais muçulmanas ou originárias do Oriente Médio foram detidas, algumas sem acesso a representantes legais. Além de pagar o custo econômico real da guerra, o povo estadunidense está pagando por essas guerras de "liberação" com sua própria liberdade. Para o americano comum, o preço da "Nova Democracia" em outros países é a morte da democracia real em seu próprio país. Enquanto isso, o Iraque está sendo preparado para a "liberação". (Ou será que queriam dizer "liberalização", esse tempo todo?) O Wall Street Journal reporta que "a administração Bush esboçou planos de amplo alcance para refazer a economia do Iraque à imagem da economia dos EUA". A nova constituição do Iraque está sendo esboçada. São leis comerciais, leis tributárias e leis de propriedade intelectual re-escritas para fazer da economia do Iraque uma economia capitalista no estilo daquela dos EUA. A United States Agency for International Development (Departamento dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) convidou companhias dos EUA para fazerem suas ofertas em relação a contratos que vão da construção de rodovias e sistemas de água e esgotos, até a distribuição de livros didáticos e redes de telefones celulares. Logo depois que Bush o Segundo anunciou que queria que os cultivadores estadunidenses alimentassem o mundo, Dan Amstutz, ex-executivo sênior da Cargill, a maior exportadora de grãos do mundo, foi posto no comando da reconstrução agrícola do Iraque. Kevin Watkins, diretor para a política da Oxfam, disse: "Colocar Dan Amstutz no comando da reconstrução agrícola do Iraque é como colocar o Saddam Hussein na direção da comissão para os direitos humanos". Os dois homens que foram apontados para gerenciar as operações administrativas relativas ao petróleo iraquiano trabalharam para a Shell, a BP e a Fluor. A Fluor está envolvida num processo movido por funcionários negros na África do Sul, que acusaram a companhia de explorá-los e tratá-los brutalmente durante a era do apartheid. A Shell, naturalmente, é bem conhecida pela devastação que causou nas terras das tribos dos Ogoni, na Nigéria. Tom Brokaw (um dos mais conhecidos âncoras dos EUA) foi inadvertidamente sucinto quanto ao processo. "Uma das coisas que não queremos fazer é destruir a infra-estrutura do Iraque porque, dentro de poucos dias, aquele país será nosso." Agora que as escrituras de posse estão sendo finalizadas, o Iraque está pronto para a Nova Democracia. Portanto, como Lenin costumava perguntar: O que deve ser feito? Bem Podemos aceitar como fato consumado que não existe poder militar convencional que possa desafiar com sucesso a máquina de guerra estadunidense. Os ataques terroristas só dão ao governo dos EUA uma oportunidade para apertar ainda mais o cerco. Poucos dias depois de um novo ataque, podemos estar certos de que seria aprovada a lei Patriot II. Argumentar contra a agressão militar dos EUA, dizendo que ela vai aumentar as possibilidades de ataques terroristas é simplesmente fútil. É como ameaçar o Coelhinho Brer de que será atirado no arbusto de espinheiros. Qualquer pessoa que tiver lido os documentos escritos pelo The Project for the New American Century (O Projeto para o Novo Século Americano) podem atestar o fato. A supressão pelo governo da comissão do Congresso para a investigação do 11 de setembro, a qual descobriu que havia avisos da inteligência em relação ao ataque, foi ignorada, atestando também o fato de que, por toda a sua disposição de espírito, os terroristas e o regime Bush poderiam muito bem estar trabalhando como uma equipe. Ambos responsabilizam as pessoas pelas ações de seus governos. Ambos acreditam na doutrina da culpa coletiva e da punição coletiva. Suas ações beneficiam altamente os uns aos outros. O governo dos EUA já demonstrou em termos nada incertos a gama e a extensão de sua capacidade de agressão paranóica. Em psicologia humana, a agressão paranóica é geralmente um indicador de insegurança nervosa. Poderia ser levantado o argumento de que não é muito diferente no caso da psicologia das nações. O Império é paranóico porque tem um baixo ventre vulnerável. Sua "homeland" (terra natal) pode ser defendida por patrulhas nas fronteiras e armas nucleares, mas a sua economia tem as cordas completamente esticadas em torno do mundo todo. Seus entrepostos econômicos estão expostos e vulneráveis. Na Internet já se encontram inúmeras listas bem elaboradas de produtos dos governos dos EUA e da Grã-Bretanha e de companhias que deveriam ser boicotados. Além dos alvos costumeiros a Coca, a Pepsi, a McDonalds agências governamentais como a USAID, a inglesa DFID, os bancos dos EUA e da Grã-Bretanha, a Arthur Andersen, a Merrill Lynch e a American Express poderiam se ver assediadas. Essas listas estão sendo afiadas e refinadas por ativistas em todo o mundo. Elas poderiam se tornar um guia prático para dirigir a fúria amorfa, porém crescente no planeta todo. De repente, a "inevitabilidade" do projeto de uma Globalização Corporativa está começando a parecer mais do que um pouco menos evitável. Seria ingênuo imaginar que podemos confrontar o Império diretamente. A nossa estratégia deve ser a de isolar as partes funcionantes do Império e de incapacitá-las, uma a uma. Nenhum alvo é pequeno demais. Nenhuma vitória muito insignificante. Poderíamos reverter a idéia de sanções econômicas impostas aos países mais pobres pelo Império e seus Aliados. Poderíamos impor um regime de Sanções dos Povos para cada corporação que tenha sido recompensada com um contrato de pós-guerra no Iraque, da mesma forma que os ativistas neste país e no mundo todo fizeram das instituições do apartheid o seu alvo. Cada uma delas deve ser identificada pelo nome, exposta e boicotada. Forçada a fechar as portas. Essa poderia ser nossa resposta à campanha Shock and Awe. Seria um belo começo. Outro desafio urgente é expor a mídia corporativa pelo boletim da diretoria que realmente é. Precisamos criar um universo de informações alternativas. Precisamos apoiar a mídia independente, tal como o Democracy Now!, a Alternative Radio, e a South End Press. A batalha para endireitar a democracia será difícil. Nossas liberdades não nos foram concedidas por nenhum governo. Elas foram arrancadas deles por nós mesmos. E uma vez que abrirmos mão delas, a batalha para recuperá-las se chama revolução. É uma batalha que precisa englobar todos os continentes e países. Não deve reconhecer fronteiras nacionais mas, se quiser ter sucesso, tem que começar aqui. Na América. A única instituição mais poderosa do que o governo dos EUA é a sociedade civil estadunidense. O resto de nós somos apenas sujeitos de nações escravas. Isso não quer dizer, absolutamente, que não temos poder, mas vocês têm o poder da proximidade. Vocês têm acesso ao Palácio Imperial e aos aposentos do Imperador. As conquistas do Império estão sendo levadas a cabo em nome de todos vocês, e vocês têm o direito de recusar. Vocês podem se recusar de combater. Vocês podem se recusar de deslocar os mísseis do depósito até o cais. Vocês podem se recusar de hastear aquela bandeira. Vocês podem recusar o desfile da vitória. Vocês têm uma rica tradição de resistência. Basta que vocês leiam A People's History of the United States (História do Povo dos Estados Unidos) de Howard Zinn para se lembrarem disso. Milhares de vocês sobreviveram à implacável propaganda a que foram submetidos, e estão lutando ativamente contra o seu próprio governo. Na atmosfera ultra-patriótica que prevalece nos EUA, isso tem um valor equivalente ao do iraquiano ou afegão ou palestino que luta pela sua própria terra. Se vocês se juntarem à batalha, não em centenas ou milhares, mas aos milhões, vocês serão calorosamente saudados pelo resto do mundo. E vocês verão como é bonito ser gentil em vez de brutal, seguro em vez de assustado. Tratado como amigo, em vez de isolado. Amado, em vez de odiado. Eu sinto ter que discordar do presidente de vocês. Mas a nação de vocês não é de maneira nenhuma uma grande nação. Apesar disso, vocês poderiam ser um grande povo. A História lhes está dando essa chance. Não deixem escapar esse momento.
Copyright 2003 by Arundhati Roy Instant-Mix Imperial Democracy (Buy One, Get One Free) by Arundhati Roy Presented in New York City at The Riverside Church May 13, 2003 Sponsored by the Center for Economic and Social Rights Published on Sunday, May 18, 2003 by CommonDreams.org In these times, when we have to race to keep abreast of the speed at which our freedoms are being snatched from us, and when few can afford the luxury of retreating from the streets for a while in order to return with an exquisite, fully formed political thesis replete with footnotes and references, what profound gift can I offer you tonight? As we lurch from crisis to crisis, beamed directly into our brains by satellite TV, we have to think on our feet. On the move. We enter histories through the rubble of war. Ruined cities, parched fields, shrinking forests, and dying rivers are our archives. Craters left by daisy cutters, our libraries. So what can I offer you tonight? Some uncomfortable thoughts about money, war, empire, racism, and democracy. Some worries that flit around my brain like a family of persistent moths that keep me awake at night. Some of you will think it bad manners for a person like me, officially entered in the Big Book of Modern Nations as an "Indian citizen," to come here and criticize the U.S. government. Speaking for myself, I'm no flag-waver, no patriot, and am fully aware that venality, brutality, and hypocrisy are imprinted on the leaden soul of every state. But when a country ceases to be merely a country and becomes an empire, then the scale of operations changes dramatically. So may I clarify that tonight I speak as a subject of the American Empire? I speak as a slave who presumes to criticize her king. Since lectures must be called something, mine tonight is called: Instant-Mix Imperial Democracy (Buy One, Get One Free). Way back in 1988, on the 3rd of July, the U.S.S. Vincennes, a missile cruiser stationed in the Persian Gulf, accidentally shot down an Iranian airliner and killed 290 civilian passengers. George Bush the First, who was at the time on his presidential campaign, was asked to comment on the incident. He said quite subtly, "I will never apologize for the United States. I don't care what the facts are." I don't care what the facts are. What a perfect maxim for the New American Empire. Perhaps a slight variation on the theme would be more apposite: The facts can be whatever we want them to be. When the United States invaded Iraq, a New York Times/CBS News survey estimated that 42 percent of the American public believed that Saddam Hussein was directly responsible for the September 11th attacks on the World Trade Center and the Pentagon. And an ABC News poll said that 55 percent of Americans believed that Saddam Hussein directly supported Al Qaida. None of this opinion is based on evidence (because there isn't any). All of it is based on insinuation, auto-suggestion, and outright lies circulated by the U.S. corporate media, otherwise known as the "Free Press," that hollow pillar on which contemporary American democracy rests. Public support in the U.S. for the war against Iraq was founded on a multi-tiered edifice of falsehood and deceit, coordinated by the U.S. government and faithfully amplified by the corporate media. Apart from the invented links between Iraq and Al Qaida, we had the manufactured frenzy about Iraq's Weapons of Mass Destruction. George Bush the Lesser went to the extent of saying it would be "suicidal" for the U.S. not to attack Iraq. We once again witnessed the paranoia that a starved, bombed, besieged country was about to annihilate almighty America. (Iraq was only the latest in a succession of countries - earlier there was Cuba, Nicaragua, Libya, Grenada, and Panama.) But this time it wasn't just your ordinary brand of friendly neighborhood frenzy. It was Frenzy with a Purpose. It ushered in an old doctrine in a new bottle: the Doctrine of Pre-emptive Strike, a.k.a. The United States Can Do Whatever The Hell It Wants, And That's Official. The war against Iraq has been fought and won and no Weapons of Mass Destruction have been found. Not even a little one. Perhaps they'll have to be planted before they're discovered. And then, the more troublesome amongst us will need an explanation for why Saddam Hussein didn't use them when his country was being invaded. Of course, there'll be no answers. True Believers will make do with those fuzzy TV reports about the discovery of a few barrels of banned chemicals in an old shed. There seems to be no consensus yet about whether they're really chemicals, whether they're actually banned and whether the vessels they're contained in can technically be called barrels. (There were unconfirmed rumours that a teaspoonful of potassium permanganate and an old harmonica were found there too.) Meanwhile, in passing, an ancient civilization has been casually decimated by a very recent, casually brutal nation. Then there are those who say, so what if Iraq had no chemical and nuclear weapons? So what if there is no Al Qaida connection? So what if Osama bin Laden hates Saddam Hussein as much as he hates the United States? Bush the Lesser has said Saddam Hussein was a "Homicidal Dictator." And so, the reasoning goes, Iraq needed a "regime change." Never mind that forty years ago, the CIA, under President John F. Kennedy, orchestrated a regime change in Baghdad. In 1963, after a successful coup, the Ba'ath party came to power in Iraq. Using lists provided by the CIA, the new Ba'ath regime systematically eliminated hundreds of doctors, teachers, lawyers, and political figures known to be leftists. An entire intellectual community was slaughtered. (The same technique was used to massacre hundreds of thousands of people in Indonesia and East Timor.) The young Saddam Hussein was said to have had a hand in supervising the bloodbath. In 1979, after factional infighting within the Ba'ath Party, Saddam Hussein became the President of Iraq. In April 1980, while he was massacring Shias, the U.S. National Security Adviser Zbigniew Brzezinksi declared, "We see no fundamental incompatibility of interests between the United States and Iraq." Washington and London overtly and covertly supported Saddam Hussein. They financed him, equipped him, armed him, and provided him with dual-use materials to manufacture weapons of mass destruction. They supported his worst excesses financially, materially, and morally. They supported the eight-year war against Iran and the 1988 gassing of Kurdish people in Halabja, crimes which 14 years later were re-heated and served up as reasons to justify invading Iraq. After the first Gulf War, the "Allies" fomented an uprising of Shias in Basra and then looked away while Saddam Hussein crushed the revolt and slaughtered thousands in an act of vengeful reprisal. The point is, if Saddam Hussein was evil enough to merit the most elaborate, openly declared assassination attempt in history (the opening move of Operation Shock and Awe), then surely those who supported him ought at least to be tried for war crimes? Why aren't the faces of U.S. and U.K. government officials on the infamous pack of cards of wanted men and women? Because when it comes to Empire, facts don't matter. Yes, but all that's in the past we're told. Saddam Hussein is a monster who must be stopped now. And only the U.S. can stop him. It's an effective technique, this use of the urgent morality of the present to obscure the diabolical sins of the past and the malevolent plans for the future. Indonesia, Panama, Nicaragua, Iraq, Afghanistan - the list goes on and on. Right now there are brutal regimes being groomed for the future - Egypt, Saudi Arabia, Turkey, Pakistan, the Central Asian Republics. U.S. Attorney General John Ashcroft recently declared that U.S. freedoms are "not the grant of any government or document, but .our endowment from God." (Why bother with the United Nations when God himself is on hand?) So here we are, the people of the world, confronted with an Empire armed with a mandate from heaven (and, as added insurance, the most formidable arsenal of weapons of mass destruction in history). Here we are, confronted with an Empire that has conferred upon itself the right to go to war at will, and the right to deliver people from corrupting ideologies, from religious fundamentalists, dictators, sexism, and poverty by the age-old, tried-and-tested practice of extermination. Empire is on the move, and Democracy is its sly new war cry. Democracy, home-delivered to your doorstep by daisy cutters. Death is a small price for people to pay for the privilege of sampling this new product: Instant-Mix Imperial Democracy (bring to a boil, add oil, then bomb). But then perhaps chinks, negroes, dinks, gooks, and wogs don't really qualify as real people. Perhaps our deaths don't qualify as real deaths. Our histories don't qualify as history. They never have. Speaking of history, in these past months, while the world watched, the U.S. invasion and occupation of Iraq was broadcast on live TV. Like Osama bin Laden and the Taliban in Afghanistan, the regime of Saddam Hussein simply disappeared. This was followed by what analysts called a "power vacuum." Cities that had been under siege, without food, water, and electricity for days, cities that had been bombed relentlessly, people who had been starved and systematically impoverished by the UN sanctions regime for more than a decade, were suddenly left with no semblance of urban administration. A seven-thousand-year-old civilization slid into anarchy. On live TV. Vandals plundered shops, offices, hotels, and hospitals. American and British soldiers stood by and watched. They said they had no orders to act. In effect, they had orders to kill people, but not to protect them. Their priorities were clear. The safety and security of Iraqi people was not their business. The security of whatever little remained of Iraq's infrastructure was not their business. But the security and safety of Iraq's oil fields were. Of course they were. The oil fields were "secured" almost before the invasion began. On CNN and BBC the scenes of the rampage were played and replayed. TV commentators, army and government spokespersons portrayed it as a "liberated people" venting their rage at a despotic regime. U.S. Defense Secretary Donald Rumsfeld said: "It's untidy. Freedom's untidy and free people are free to commit crimes and make mistakes and do bad things." Did anybody know that Donald Rumsfeld was an anarchist? I wonder - did he hold the same view during the riots in Los Angeles following the beating of Rodney King? Would he care to share his thesis about the Untidiness of Freedom with the two million people being held in U.S. prisons right now? (The world's "freest" country has the highest number of prisoners in the world.) Would he discuss its merits with young African American men, 28 percent of whom will spend some part of their adult lives in jail? Could he explain why he serves under a president who oversaw 152 executions when he was governor of Texas? Before the war on Iraq began, the Office of Reconstruction and Humanitarian Assistance (ORHA) sent the Pentagon a list of 16 crucial sites to protect. The National Museum was second on that list. Yet the Museum was not just looted, it was desecrated. It was a repository of an ancient cultural heritage. Iraq as we know it today was part of the river valley of Mesopotamia. The civilization that grew along the banks of the Tigris and the Euphrates produced the world's first writing, first calendar, first library, first city, and, yes, the world's first democracy. King Hammurabi of Babylon was the first to codify laws governing the social life of citizens. It was a code in which abandoned women, prostitutes, slaves, and even animals had rights. The Hammurabi code is acknowledged not just as the birth of legality, but the beginning of an understanding of the concept of social justice. The U.S. government could not have chosen a more inappropriate land in which to stage its illegal war and display its grotesque disregard for justice. At a Pentagon briefing during the days of looting, Secretary Rumsfeld, Prince of Darkness, turned on his media cohorts who had served him so loyally through the war. "The images you are seeing on television, you are seeing over and over and over, and it's the same picture, of some person walking out of some building with a vase, and you see it twenty times and you say, 'My god, were there that many vases? Is it possible that there were that many vases in the whole country?'" Laughter rippled through the press room. Would it be alright for the poor of Harlem to loot the Metropolitan Museum? Would it be greeted with similar mirth? The last building on the ORHA list of 16 sites to be protected was the Ministry of Oil. It was the only one that was given protection. Perhaps the occupying army thought that in Muslim countries lists are read upside down? Television tells us that Iraq has been "liberated" and that Afghanistan is well on its way to becoming a paradise for women-thanks to Bush and Blair, the 21st century's leading feminists. In reality, Iraq's infrastructure has been destroyed. Its people brought to the brink of starvation. Its food stocks depleted. And its cities devastated by a complete administrative breakdown. Iraq is being ushered in the direction of a civil war between Shias and Sunnis. Meanwhile, Afghanistan has lapsed back into the pre-Taliban era of anarchy, and its territory has been carved up into fiefdoms by hostile warlords. Undaunted by all this, on the 2nd of May Bush the Lesser launched his 2004 campaign hoping to be finally elected U.S. President. In what probably constitutes the shortest flight in history, a military jet landed on an aircraft carrier, the U.S.S. Abraham Lincoln, which was so close to shore that, according to the Associated Press, administration officials acknowledged "positioning the massive ship to provide the best TV angle for Bush's speech, with the sea as his background instead of the San Diego coastline." President Bush, who never served his term in the military, emerged from the cockpit in fancy dress - a U.S. military bomber jacket, combat boots, flying goggles, helmet. Waving to his cheering troops, he officially proclaimed victory over Iraq. He was careful to say that it was "just one victory in a war on terror [which] still goes on." It was important to avoid making a straightforward victory announcement, because under the Geneva Convention a victorious army is bound by the legal obligations of an occupying force, a responsibility that the Bush administration does not want to burden itself with. Also, closer to the 2004 elections, in order to woo wavering voters, another victory in the "War on Terror" might become necessary. Syria is being fattened for the kill. It was Herman Goering, that old Nazi, who said, "People can always be brought to the bidding of the leaders. All you have to do is tell them they're being attacked and denounce the pacifists for a lack of patriotism and exposing the country to danger. It works the same way in any country." He's right. It's dead easy. That's what the Bush regime banks on. The distinction between election campaigns and war, between democracy and oligarchy, seems to be closing fast. The only caveat in these campaign wars is that U.S. lives must not be lost. It shakes voter confidence. But the problem of U.S. soldiers being killed in combat has been licked. More or less. At a media briefing before Operation Shock and Awe was unleashed, General Tommy Franks announced, "This campaign will be like no other in history." Maybe he's right. I'm no military historian, but when was the last time a war was fought like this? After using the "good offices" of UN diplomacy (economic sanctions and weapons inspections) to ensure that Iraq was brought to its knees, its people starved, half a million children dead, its infrastructure severely damaged, after making sure that most of its weapons had been destroyed, in an act of cowardice that must surely be unrivalled in history, the "Coalition of the Willing" (better known as the Coalition of the Bullied and Bought) - sent in an invading army! Operation Iraqi Freedom? I don't think so. It was more like Operation Let's Run a Race, but First Let Me Break Your Knees. As soon as the war began, the governments of France, Germany, and Russia, which refused to allow a final resolution legitimizing the war to be passed in the UN Security Council, fell over each other to say how much they wanted the United States to win. President Jacques Chirac offered French airspace to the Anglo-American air force. U.S. military bases in Germany were open for business. German Foreign Minister Joschka Fischer publicly hoped for the "rapid collapse" of the Saddam Hussein regime. Vladimir Putin publicly hoped for the same. These are governments that colluded in the enforced disarming of Iraq before their dastardly rush to take the side of those who attacked it. Apart from hoping to share the spoils, they hoped Empire would honor their pre-war oil contracts with Iraq. Only the very naïve could expect old Imperialists to behave otherwise. Leaving aside the cheap thrills and the lofty moral speeches made in the UN during the run up to the war, eventually, at the moment of crisis, the unity of Western governments - despite the opposition from the majority of their people - was overwhelming. When the Turkish government temporarily bowed to the views of 90 percent of its population, and turned down the U.S. government's offer of billions of dollars of blood money for the use of Turkish soil, it was accused of lacking "democratic principles." According to a Gallup International poll, in no European country was support for a war carried out "unilaterally by America and its allies" higher than 11 percent. But the governments of England, Italy, Spain, Hungary, and other countries of Eastern Europe were praised for disregarding the views of the majority of their people and supporting the illegal invasion. That, presumably, was fully in keeping with democratic principles. What's it called? New Democracy? (Like Britain's New Labour?) In stark contrast to the venality displayed by their governments, on the 15th of February, weeks before the invasion, in the most spectacular display of public morality the world has ever seen, more than 10 million people marched against the war on 5 continents. Many of you, I'm sure, were among them. They - we - were disregarded with utter disdain. When asked to react to the anti-war demonstrations, President Bush said, "It's like deciding, well, I'm going to decide policy based upon a focus group. The role of a leader is to decide policy based upon the security, in this case the security of the people."Democracy, the modern world's holy cow, is in crisis. And the crisis is a profound one. Every kind of outrage is being committed in the name of democracy. It has become little more than a hollow word, a pretty shell, emptied of all content or meaning. It can be whatever you want it to be. Democracy is the Free World's whore, willing to dress up, dress down, willing to satisfy a whole range of taste, available to be used and abused at will. Until quite recently, right up to the 1980's, democracy did seem as though it might actually succeed in delivering a degree of real social justice. But modern democracies have been around for long enough for neo-liberal capitalists to learn how to subvert them. They have mastered the technique of infiltrating the instruments of democracy - the "independent" judiciary, the "free" press, the parliament - and molding them to their purpose. The project of corporate globalization has cracked the code. Free elections, a free press, and an independent judiciary mean little when the free market has reduced them to commodities on sale to the highest bidder. To fully comprehend the extent to which Democracy is under siege, it might be an idea to look at what goes on in some of our contemporary democracies. The World's Largest: India, (which I have written about at some length and therefore will not speak about tonight). The World's Most Interesting: South Africa. The world's most powerful: the U.S.A. And, most instructive of all, the plans that are being made to usher in the world's newest: Iraq. In South Africa, after 300 years of brutal domination of the black majority by a white minority through colonialism and apartheid, a non-racial, multi-party democracy came to power in 1994. It was a phenomenal achievement. Within two years of coming to power, the African National Congress had genuflected with no caveats to the Market God. Its massive program of structural adjustment, privatization, and liberalization has only increased the hideous disparities between the rich and the poor. More than a million people have lost their jobs. The corporatization of basic services - electricity, water, and housing-has meant that 10 million South Africans, almost a quarter of the population, have been disconnected from water and electricity. 2 million have been evicted from their homes. Meanwhile, a small white minority that has been historically privileged by centuries of brutal exploitation is more secure than ever before. They continue to control the land, the farms, the factories, and the abundant natural resources of that country. For them the transition from apartheid to neo-liberalism barely disturbed the grass. It's apartheid with a clean conscience. And it goes by the name of Democracy. Democracy has become Empire's euphemism for neo-liberal capitalism. In countries of the first world, too, the machinery of democracy has been effectively subverted. Politicians, media barons, judges, powerful corporate lobbies, and government officials are imbricated in an elaborate underhand configuration that completely undermines the lateral arrangement of checks and balances between the constitution, courts of law, parliament, the administration and, perhaps most important of all, the independent media that form the structural basis of a parliamentary democracy. Increasingly, the imbrication is neither subtle nor elaborate. Italian Prime Minister Silvio Berlusconi, for instance, has a controlling interest in major Italian newspapers, magazines, television channels, and publishing houses. The Financial Times reported that he controls about 90 percent of Italy's TV viewership. Recently, during a trial on bribery charges, while insisting he was the only person who could save Italy from the left, he said, "How much longer do I have to keep living this life of sacrifices?" That bodes ill for the remaining 10 percent of Italy's TV viewership. What price Free Speech? Free Speech for whom? In the United States, the arrangement is more complex. Clear Channel Worldwide Incorporated is the largest radio station owner in the country. It runs more than 1,200 channels, which together account for 9 percent of the market. Its CEO contributed hundreds of thousands of dollars to Bush's election campaign. When hundreds of thousands of American citizens took to the streets to protest against the war on Iraq, Clear Channel organized pro-war patriotic "Rallies for America" across the country. It used its radio stations to advertise the events and then sent correspondents to cover them as though they were breaking news. The era of manufacturing consent has given way to the era of manufacturing news. Soon media newsrooms will drop the pretense, and start hiring theatre directors instead of journalists. As America's show business gets more and more violent and war-like, and America's wars get more and more like show business, some interesting cross-overs are taking place. The designer who built the 250,000 dollar set in Qatar from which General Tommy Franks stage-managed news coverage of Operation Shock and Awe also built sets for Disney, MGM, and "Good Morning America." It is a cruel irony that the U.S., which has the most ardent, vociferous defenders of the idea of Free Speech, and (until recently) the most elaborate legislation to protect it, has so circumscribed the space in which that freedom can be expressed. In a strange, convoluted way, the sound and fury that accompanies the legal and conceptual defense of Free Speech in America serves to mask the process of the rapid erosion of the possibilities of actually exercising that freedom. The news and entertainment industry in the U.S. is for the most part controlled by a few major corporations - AOL-Time Warner, Disney, Viacom, News Corporation. Each of these corporations owns and controls TV stations, film studios, record companies, and publishing ventures. Effectively, the exits are sealed. America's media empire is controlled by a tiny coterie of people. Chairman of the Federal Communications Commission Michael Powell, the son of Secretary of State Colin Powell, has proposed even further deregulation of the communication industry, which will lead to even greater consolidation. So here it is - the World's Greatest Democracy, led by a man who was not legally elected. America's Supreme Court gifted him his job. What price have American people paid for this spurious presidency? In the three years of George Bush the Lesser's term, the American economy has lost more than two million jobs. Outlandish military expenses, corporate welfare, and tax giveaways to the rich have created a financial crisis for the U.S. educational system. According to a survey by the National Council of State Legislatures, U.S. states cut 49 billion dollars in public services, health, welfare benefits, and education in 2002. They plan to cut another 25.7 billion dollars this year. That makes a total of 75 billion dollars. Bush's initial budget request to Congress to finance the war in Iraq was 80 billion dollars. So who's paying for the war? America's poor. Its students, its unemployed, its single mothers, its hospital and home-care patients, its teachers, and health workers. And who's actually fighting the war? Once again, America's poor. The soldiers who are baking in Iraq's desert sun are not the children of the rich. Only one of all the representatives in the House of Representatives and the Senate has a child fighting in Iraq. America's "volunteer" army in fact depends on a poverty draft of poor whites, Blacks, Latinos, and Asians looking for a way to earn a living and get an education. Federal statistics show that African Americans make up 21 percent of the total armed forces and 29 percent of the U.S. army. They count for only 12 percent of the general population. It's ironic, isn't it - the disproportionately high representation of African Americans in the army and prison? Perhaps we should take a positive view, and look at this as affirmative action at its most effective. Nearly 4 million Americans (2 percent of the population) have lost the right to vote because of felony convictions. Of that number, 1.4 million are African Americans, which means that 13 percent of all voting-age Black people have been disenfranchised. For African Americans there's also affirmative action in death. A study by the economist Amartya Sen shows that African Americans as a group have a lower life expectancy than people born in China, in the Indian State of Kerala (where I come from), Sri Lanka, or Costa Rica. Bangladeshi men have a better chance of making it to the age of forty than African American men from here in Harlem. This year, on what would have been Dr. Martin Luther King, Jr.'s 74th birthday, President Bush denounced the University of Michigan's affirmative action program favouring Blacks and Latinos. He called it "divisive," "unfair," and "unconstitutional." The successful effort to keep Blacks off the voting rolls in the State of Florida in order that George Bush be elected was of course neither unfair nor unconstitutional. I don't suppose affirmative action for White Boys From Yale ever is. So we know who's paying for the war. We know who's fighting it. But who will benefit from it? Who is homing in on the reconstruction contracts estimated to be worth up to one hundred billon dollars? Could it be America's poor and unemployed and sick? Could it be America's single mothers? Or America's Black and Latino minorities? Operation Iraqi Freedom, George Bush assures us, is about returning Iraqi oil to the Iraqi people. That is, returning Iraqi oil to the Iraqi people via Corporate Multinationals. Like Bechtel, like Chevron, like Halliburton. Once again, it is a small, tight circle that connects corporate, military, and government leadership to one another. The promiscuousness, the cross-pollination is outrageous. Consider this: the Defense Policy Board is a government-appointed group that advises the Pentagon. Its members are appointed by the under secretary of defense and approved by Donald Rumsfeld. Its meetings are classified. No information is available for public scrutiny. The Washington-based Center for Public Integrity found that 9 out of the 30 members of the Defense Policy Board are connected to companies that were awarded defense contracts worth 76 billion dollars between the years 2001 and 2002. One of them, Jack Sheehan, a retired Marine Corps general, is a senior vice president at Bechtel, the giant international engineering outfit. Riley Bechtel, the company chairman, is on the President's Export Council. Former Secretary of State George Shultz, who is also on the Board of Directors of the Bechtel Group, is the chairman of the advisory board of the Committee for the Liberation of Iraq. When asked by the New York Times whether he was concerned about the appearance of a conflict of interest, he said, "I don't know that Bechtel would particularly benefit from it. But if there's work to be done, Bechtel is the type of company that could do it." Bechtel has been awarded a 680 million dollar reconstruction contract in Iraq. According to the Center for Responsive Politics, Bechtel contributed hundreds of thousands of dollars to Republican campaign efforts. Arcing across this subterfuge, dwarfing it by the sheer magnitude of its malevolence, is America's anti-terrorism legislation. The U.S.A. Patriot Act, passed in October 2001, has become the blueprint for similar anti-terrorism bills in countries across the world. It was passed in the House of Representatives by a majority vote of 337 to 79. According to the New York Times, "Many lawmakers said it had been impossible to truly debate or even read the legislation." The Patriot Act ushers in an era of systemic automated surveillance. It gives the government the authority to monitor phones and computers and spy on people in ways that would have seemed completely unacceptable a few years ago. It gives the FBI the power to seize all of the circulation, purchasing, and other records of library users and bookstore customers on the suspicion that they are part of a terrorist network. It blurs the boundaries between speech and criminal activity creating the space to construe acts of civil disobedience as violating the law. Already hundreds of people are being held indefinitely as "unlawful combatants." (In India, the number is in the thousands. In Israel, 5,000 Palestinians are now being detained.) Non-citizens, of course, have no rights at all. They can simply be "disappeared" like the people of Chile under Washington's old ally, General Pinochet. More than 1,000 people, many of them Muslim or of Middle Eastern origin, have been detained, some without access to legal representatives. Apart from paying the actual economic costs of war, American people are paying for these wars of "liberation" with their own freedoms. For the ordinary American, the price of "New Democracy" in other countries is the death of real democracy at home. Meanwhile, Iraq is being groomed for "liberation." (Or did they mean "liberalization" all along?) The Wall Street Journal reports that "the Bush administration has drafted sweeping plans to remake Iraq's economy in the U.S. image." Iraq's constitution is being redrafted. Its trade laws, tax laws, and intellectual property laws rewritten in order to turn it into an American-style capitalist economy. The United States Agency for International Development has invited U.S. companies to bid for contracts that range between road building, water systems, text book distribution, and cell phone networks. Soon after Bush the Second announced that he wanted American farmers to feed the world, Dan Amstutz, a former senior executive of Cargill, the biggest grain exporter in the world, was put in charge of agricultural reconstruction in Iraq. Kevin Watkins, Oxfam's policy director, said, "Putting Dan Amstutz in charge of agricultural reconstruction in Iraq is like putting Saddam Hussein in the chair of a human rights commission." The two men who have been short-listed to run operations for managing Iraqi oil have worked with Shell, BP, and Fluor. Fluor is embroiled in a lawsuit by black South African workers who have accused the company of exploiting and brutalizing them during the apartheid era. Shell, of course, is well known for its devastation of the Ogoni tribal lands in Nigeria. Tom Brokaw (one of America's best-known TV anchors) was inadvertently succinct about the process. "One of the things we don't want to do," he said, "is to destroy the infrastructure of Iraq because in a few days we're going to own that country." Now that the ownership deeds are being settled, Iraq is ready for New Democracy. So, as Lenin used to ask: What Is To Be Done? Well We might as well accept the fact that there is no conventional military force that can successfully challenge the American war machine. Terrorist strikes only give the U.S. Government an opportunity that it is eagerly awaiting to further tighten its stranglehold. Within days of an attack you can bet that Patriot II would be passed. To argue against U.S. military aggression by saying that it will increase the possibilities of terrorist strikes is futile. It's like threatening Brer Rabbit that you'll throw him into the bramble bush. Any one who has read the documents written by The Project for the New American Century can attest to that. The government's suppression of the Congressional committee report on September 11th, which found that there was intelligence warning of the strikes that was ignored, also attests to the fact that, for all their posturing, the terrorists and the Bush regime might as well be working as a team. They both hold people responsible for the actions of their governments. They both believe in the doctrine of collective guilt and collective punishment. Their actions benefit each other greatly. The U.S. government has already displayed in no uncertain terms the range and extent of its capability for paranoid aggression. In human psychology, paranoid aggression is usually an indicator of nervous insecurity. It could be argued that it's no different in the case of the psychology of nations. Empire is paranoid because it has a soft underbelly. Its "homeland" may be defended by border patrols and nuclear weapons, but its economy is strung out across the globe. Its economic outposts are exposed and vulnerable. Already the Internet is buzzing with elaborate lists of American and British government products and companies that should be boycotted. Apart from the usual targets - Coke, Pepsi, McDonalds - government agencies like USAID, the British DFID, British and American banks, Arthur Andersen, Merrill Lynch, and American Express could find themselves under siege. These lists are being honed and refined by activists across the world. They could become a practical guide that directs the amorphous but growing fury in the world. Suddenly, the "inevitability" of the project of Corporate Globalization is beginning to seem more than a little evitable. It would be naïve to imagine that we can directly confront Empire. Our strategy must be to isolate Empire's working parts and disable them one by one. No target is too small. No victory too insignificant. We could reverse the idea of the economic sanctions imposed on poor countries by Empire and its Allies. We could impose a regime of Peoples' Sanctions on every corporate house that has been awarded with a contract in postwar Iraq, just as activists in this country and around the world targeted institutions of apartheid. Each one of them should be named, exposed, and boycotted. Forced out of business. That could be our response to the Shock and Awe campaign. It would be a great beginning. Another urgent challenge is to expose the corporate media for the boardroom bulletin that it really is. We need to create a universe of alternative information. We need to support independent media like Democracy Now!, Alternative Radio, and South End Press. The battle to reclaim democracy is going to be a difficult one. Our freedoms were not granted to us by any governments. They were wrested from them by us. And once we surrender them, the battle to retrieve them is called a revolution. It is a battle that must range across continents and countries. It must not acknowledge national boundaries but, if it is to succeed, it has to begin here. In America. The only institution more powerful than the U.S. government is American civil society. The rest of us are subjects of slave nations. We are by no means powerless, but you have the power of proximity. You have access to the Imperial Palace and the Emperor's chambers. Empire's conquests are being carried out in your name, and you have the right to refuse. You could refuse to fight. Refuse to move those missiles from the warehouse to the dock. Refuse to wave that flag. Refuse the victory parade. You have a rich tradition of resistance. You need only read Howard Zinn's A People's History of the United States to remind yourself of this. Hundreds of thousands of you have survived the relentless propaganda you have been subjected to, and are actively fighting your own government. In the ultra-patriotic climate that prevails in the United States, that's as brave as any Iraqi or Afghan or Palestinian fighting for his or her homeland. If you join the battle, not in your hundreds of thousands, but in your millions, you will be greeted joyously by the rest of the world. And you will see how beautiful it is to be gentle instead of brutal, safe instead of scared. Befriended instead of isolated. Loved instead of hated. I hate to disagree with your president. Yours is by no means a great nation. But you could be a great people. History is giving you the chance. Seize the time. Copyright 2003 by Arundhati Roy
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