Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro em 16 agosto de 1924, onde cursou o Liceu de Artes e Ofícios. Colaborou, entre outras, com as seguintes publicações: Cruzeiro, Pif Paf, Veja, Pasquim, Correio da Manhã, Isto É, Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, UOL, Jornal do Brasil. Sua obra para teatro inclui 113 trabalhos, entre originais, traduções e adaptações, entre elas, de Shakespeare, Molière, Ibsen, Shaw, Racine, Pirandello, Pinter, Becket, Brecht, uf!).
BIOGRAFIA MAL AUTORIZADA (por Millôr Fernandes)
Nasci no
Meyer aos nove anos de idade. Nasci pequeno e cresci aos poucos.
Primeiro me fizeram o meio e depois as pontas. Só bem mais tarde cheguei
aos extremos. Cabeça, tronco e membro, não sou mais que isso.
Mas não me revolto. Fiz três revoluções, todas
perdidas. A primeira contra Deus e ele me venceu com o truque de um milagre.
A segunda contra o destino, e ele me bateu, deixando-me assim, sem entender
o enredo. A terceira contra mim mesmo, e vim parar aqui. Vêem o que
sou? E onde estou? E por que foi? Só uma coisa é certa - já
não se fazem Millôres como antigamente.
Apesar da escola sou, basicamente, um autoditada. Tudo que não sei
sempre ignorei sozinho. Nunca ninguém me ensinou a pensar, a escrever
ou a desenhar, coisa que se percebe facilmente examinando qualquer dos meus
trabalhos.
Creio que a terra é chata. Procuro, em vão, não sê-lo.
Creio que as paralelas se encontram nos paralelepípedos. E, como os
checos, posso dizer SVOBODA SUVERENITA. Ou melhor: ZA SVOBODU DUBCEKA CERNIKA.
O que, ambas as frases, não tenho a menor idéia do que significam.
Mas estou disposto a morrer por elas como tanta gente morre por outras frases
que também não entende.
Aqui estou, porém, feliz e tonto, vago e despreocupado. No escuro não
enxergo, não entendo do que não sei, paro onde me detenho, vou
e volto cheio de saudades. Pois, se fico, anseio pelo desconhecido. Se parto,
rói-me a separação.
Sou como toda gente.